São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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JANIO DE FREITAS

A nova versão

A primeira impressão não é a que fica -contrariando o ditado- da pesquisa CNT-Sensus em que Silvio Santos, como possível candidato do PFL, toma o segundo lugar e se mostra mais próximo de Luiz Inácio Lula da Silva do que José Serra o faz na pesquisa com os nomes já habituais.
O que a aritmética sugere à primeira vista são quedas expressivas, sim, de Lula e Serra quando Silvio entra na pesquisa, Lula descendo de 37,9% para 30,5% e Serra, além da queda de 16,1% para 13,6%, perdendo o segundo lugar para os 17,8% de Silvio. Mas Lula e Serra ainda ainda não têm motivo para considerar que a entrada de Silvio Santos lhes seria desastrosa.
Uma das reações possíveis a uma candidatura Silvio Santos, e certa mesmo em grande parte do eleitorado, é a de temer uma versão pseudopolítica do seu populismo televisivo, e recusar-se a confundir sua capacidade de conduzir os auditórios e a habilitação para conduzir o país. Nesse caso, o efeito imediato nas camadas populares teria como contrapartida, a prazo maior, uma polarização mais firme e conscientemente favorável em um dos que representem mais consistência do que o animador pode oferecer.
As reações opostas que uma candidatura Silvio Santos suscitaria não se deixam apreender em uma só pesquisa, nem mesmo em curto prazo. Mas poderia proporcionar até o que era inimaginável: o imenso aparato Globo, TV à frente, aplicando todos os recursos de simpatia por Lula -caso só nele sejam possíveis esperanças globais de derrotar Silvio Santos.
Sinal mais eloquente da pesquisa é o das situações de Serra e Anthony Garotinho. Em qualquer lista de candidatos, os dois estão solidamente empatados. Mas, em relação à lista que reproduz as pesquisas anteriores (sem Silvio Santos, portanto), ambos apresentam aumento substancial na taxa de rejeição pelos eleitores. Serra passa dos 41,9% para 46,6% do eleitorado e Garotinho, de 44,7% para 50%. Se estão em atividade de campanha (mais Serra, também pelo apoio na mídia, do que Garotinho), deveriam estar reduzindo a rejeição.
O ocorrido aos dois é tanto mais significativo quanto Lula exibe queda na rejeição, de 42,7 para 38,8%, e Ciro Gomes também, de 53,8 para 51,9%. Estes, além disso, subindo no cômputo de adesões, Lula de 32,1 para 37,9% e Ciro de 9,7 para 10,5%.
Por conveniência ou não, no PSDB e no PMDB a tendência mais notável foi dar o surgimento de Silvio Santos como uma arma de chantagem do combalido PFL, para criar elementos de negociação. Tese que já circulava antes da pesquisa, movida pelos que alimentam a idéia, por ora não mais do que aérea, de retirada de Serra.
Na corrente do PFL que abraça a idéia Silvio Santos há mais do que esperança. Há uma alternativa: caso este animador não se anime com a aventura eleitoral, podem tentar o Ratinho.



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