São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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INVESTIGAÇÃO

Promotoria apura superfaturamento em construção de avenida e remessas ao exterior

Empresário depõe sobre desvios em obra

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público do Estado de São Paulo informou ontem que um empresário prestou depoimento e admitiu ter participado de um esquema de corrupção na obra da avenida Água Espraiada, durante a gestão do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB).
Ricardo Augusto da Costa, ex-diretor da Costaço Comércio de Ferro e Aço, disse em depoimento, segundo a Promotoria, no dia 14 de abril, ter fornecido notas frias à empreiteira Mendes Júnior, durante o ano de 1994, para a construção da avenida, num valor aproximado de R$ 8 milhões.
Costa teria afirmado que, apesar das notas, o material nunca chegou a ser entregue. Na época, sua empresa trabalhava apenas com artigos para a metalurgia, não para a construção civil.
Interessado na possibilidade de ter sua pena reduzida por ter colaborado com as investigações, Costa disse ainda que devolvia 90% do total pago pela Mendes Júnior à própria empreiteira, ainda segundo a Promotoria.
O depoimento do empresário faz parte de um grande quebra-cabeça que o Ministério Público vem tentando montar para explicar o suposto desvio de verbas públicas da obra da avenida Água Espraiada e a emissão de dinheiro ao exterior.
Segundo depoimentos colhidos pela Promotoria, a Secretaria Municipal de Obras, a empreiteira Mendes Júnior e outras empresas subcontratadas participaram de um desvio de R$ 550 milhões da avenida durante a gestão de Paulo Maluf (1993-1996).
A Mendes Júnior recebia o dinheiro da secretaria e repassava às subcontratadas. Estas, por sua vez, devolviam 90% do valor total à empreiteira. Os cheques, segundo levantamento feito pela Promotoria, eram entregues a doleiros e remetidos ao exterior.
Algumas das empresas subcontratadas pela Mendes Júnior existiam apenas no papel. É o caso da Jatobá Esquadrias de Madeira, que teria recebido cerca de R$ 2,4 milhões da empreiteira em 1994. A empresa está no nome de uma moradora da Favela do Lixão.
Para os promotores, parte do dinheiro supostamente desviado pode explicar os US$ 200 milhões depositados em contas da família Maluf no exterior. Segundo autoridades suíças, em 1985 foi aberta uma conta no Citibank em Genebra em nome da família do ex-prefeito. Em 1997, o valor foi transferido para uma agência do banco no paraíso fiscal de Jersey, no canal da Mancha.
Em março, o Ministério Público conseguiu a quebra do sigilo bancário de Maluf e de outras 21 pessoas e empresas supostamente envolvidas no esquema.



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