São Paulo, Domingo, 30 de Maio de 1999
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SEGUNDO MANDATO
Alterações deverão acontecer no segundo semestre
FHC planeja mudar ministérios para recompor base governista

RAYMUNDO COSTA
do Painel, em Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso deve mudar o ministério no segundo semestre a fim de recompor a base de sustentação do governo.
A reforma em discussão prevê a extinção e fusão das atuais secretarias, experiência que não vem dando certo, e a criação do Ministério da Infra-Estrutura, uma antiga reivindicação do PMDB.
O PSDB era o principal obstáculo à criação da nova pasta para seu parceiro de aliança.
O partido baixou a guarda na semana passada, depois da divulgação do grampo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), rendendo-se de vez à decisão do presidente de levar até o fim do segundo mandato a aliança com os três maiores partidos do Congresso.
Na primeira reunião após a convenção de 15 de maio, os tucanos tomaram ainda duas outras decisões que facilitam a vida do presidente numa eventual reforma:
1) desistiram de tentar levar o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) de volta ao governo. Vetado pelo PMDB e pelo PFL, Mendonça de Barros ficará de molho no partido preparando projetos econômicos, até que ventos mais favoráveis soprem em sua direção;
2) desistiram de trocar Pedro Malan (Fazenda) por um nome da chamada ala desenvolvimentista do partido. Os tucanos finalmente parecem convencidos de que "a Fazenda não tem dono" e, se Malan sair, Fernando Henrique põe no lugar alguém com trânsito nos três partidos da base. Atualmente, esse é um perfil que cabe em Armínio Fraga, presidente do Banco Central, cuja atuação é elogiada pelos três partidos. Até pelos "desenvolvimentistas" tucanos.
Em compensação, o PSDB pretende pedir a mudança de nomes em sua cota de ministros, o que será levado oportunamente a FHC.
Os tucanos queixam-se de todos os seus ministros, mas três deles estão atualmente na berlinda: Clóvis Carvalho (Casa Civil), Celso Lafer (Desenvolvimento) e Pimenta da Veiga (Comunicações).
Pimenta tem prestígio no partido, mas é visto como alguém que "não acerta uma". Seu erro principal foi o de tentar, sem êxito, expurgar o PMDB da aliança governista. Mas na contabilidade do ministro também são debitadas a fraca defesa que fez de FHC, no episódio dos grampos do BNDES, e a ruptura de Itamar Franco (MG) com o governo federal.
Nos próximos dias, Lafer será chamado para uma conversa com o PSDB. Alguns tucanos ainda falam em "adotá-lo", mas prossegue a busca por alguém de estilo mais ousado, capaz de enfrentar a área econômica em defesa da bandeira desenvolvimentista, tarefa que caberia a Mendonça de Barros, se ele não fosse abatido pelos grampos do BNDES.
Na Casa Civil é evidente o desgaste de Clóvis Carvalho. Até FHC passou a ouvir críticas a seu ministro sem reagir, algo impensável até bem pouco tempo. As viagens de férias a Fernando de Noronha (PE), em jatinhos da FAB (Força Aérea Brasileira), minaram as resistências do ministro.
Euclides Scalco, coordenador político da campanha reeleitoral, é lembrado. Pimenta também, mas está "queimado" com o PMDB.
A reforma será o desfecho de um debate que tomou conta do governo depois que o PMDB, sentindo-se rejeitado na aliança, propôs e criou a CPI dos Bancos.
Aproveitando-se da ocasião, Pimenta da Veiga e Jorge Bornhausen (PFL-SC) foram ao presidente pedir o rompimento com o parceiro desleal.
Bombardeada por Antônio Carlos Magalhães, no PFL, e pelos tucanos ligados ao governador de São Paulo, Mário Covas, a manobra fracassou: Fernando Henrique arbitrou em favor da permanência do PMDB, que foi reconhecido, enfim, como um parceiro igual aos outros dois na aliança. Mas o desfecho da CPI dos Bancos é que vai selar a sorte do partido.
A retirada do veto tucano à entrega do Ministério da Infra-Estrutura ao PMDB não remove todos os obstáculos. É preciso ainda desenhar a futura pasta, que abrigaria áreas hoje sob o controle do PFL, como a de Minas e Energia.
Eventualmente, os pefelistas se sentiriam compensados com a criação de outro ministério, o do Desenvolvimento Urbano, um antigo projeto de Fernando Henrique para o segundo mandato que não saiu do papel por falta de viabilidade política.


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