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SEGUNDO MANDATO
Alterações deverão acontecer no segundo semestre
FHC planeja mudar ministérios para recompor base governista
RAYMUNDO COSTA
do Painel, em Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso deve mudar o ministério no segundo semestre a fim de
recompor a base de sustentação do
governo.
A reforma em discussão prevê a
extinção e fusão das atuais secretarias, experiência que não vem dando certo, e a criação do Ministério
da Infra-Estrutura, uma antiga reivindicação do PMDB.
O PSDB era o principal obstáculo
à criação da nova pasta para seu
parceiro de aliança.
O partido baixou a guarda na semana passada, depois da divulgação do grampo do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), rendendo-se
de vez à decisão do presidente de
levar até o fim do segundo mandato a aliança com os três maiores
partidos do Congresso.
Na primeira reunião após a convenção de 15 de maio, os tucanos
tomaram ainda duas outras decisões que facilitam a vida do presidente numa eventual reforma:
1) desistiram de tentar levar o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de
Barros (Comunicações) de volta
ao governo. Vetado pelo PMDB e
pelo PFL, Mendonça de Barros ficará de molho no partido preparando projetos econômicos, até
que ventos mais favoráveis soprem
em sua direção;
2) desistiram de trocar Pedro
Malan (Fazenda) por um nome da
chamada ala desenvolvimentista
do partido. Os tucanos finalmente
parecem convencidos de que "a
Fazenda não tem dono" e, se Malan sair, Fernando Henrique põe
no lugar alguém com trânsito nos
três partidos da base. Atualmente,
esse é um perfil que cabe em Armínio Fraga, presidente do Banco
Central, cuja atuação é elogiada
pelos três partidos. Até pelos "desenvolvimentistas" tucanos.
Em compensação, o PSDB pretende pedir a mudança de nomes
em sua cota de ministros, o que será levado oportunamente a FHC.
Os tucanos queixam-se de todos
os seus ministros, mas três deles
estão atualmente na berlinda: Clóvis Carvalho (Casa Civil), Celso Lafer (Desenvolvimento) e Pimenta
da Veiga (Comunicações).
Pimenta tem prestígio no partido, mas é visto como alguém que
"não acerta uma". Seu erro principal foi o de tentar, sem êxito, expurgar o PMDB da aliança governista. Mas na contabilidade do ministro também são debitadas a fraca defesa que fez de FHC, no episódio dos grampos do BNDES, e a
ruptura de Itamar Franco (MG)
com o governo federal.
Nos próximos dias, Lafer será
chamado para uma conversa com
o PSDB. Alguns tucanos ainda falam em "adotá-lo", mas prossegue
a busca por alguém de estilo mais
ousado, capaz de enfrentar a área
econômica em defesa da bandeira
desenvolvimentista, tarefa que caberia a Mendonça de Barros, se ele
não fosse abatido pelos grampos
do BNDES.
Na Casa Civil é evidente o desgaste de Clóvis Carvalho. Até FHC
passou a ouvir críticas a seu ministro sem reagir, algo impensável até
bem pouco tempo. As viagens de
férias a Fernando de Noronha
(PE), em jatinhos da FAB (Força
Aérea Brasileira), minaram as resistências do ministro.
Euclides Scalco, coordenador
político da campanha reeleitoral, é
lembrado. Pimenta também, mas
está "queimado" com o PMDB.
A reforma será o desfecho de um
debate que tomou conta do governo depois que o PMDB, sentindo-se rejeitado na aliança, propôs e
criou a CPI dos Bancos.
Aproveitando-se da ocasião, Pimenta da Veiga e Jorge Bornhausen (PFL-SC) foram ao presidente
pedir o rompimento com o parceiro desleal.
Bombardeada por Antônio Carlos Magalhães, no PFL, e pelos tucanos ligados ao governador de
São Paulo, Mário Covas, a manobra fracassou: Fernando Henrique
arbitrou em favor da permanência
do PMDB, que foi reconhecido,
enfim, como um parceiro igual aos
outros dois na aliança. Mas o desfecho da CPI dos Bancos é que vai
selar a sorte do partido.
A retirada do veto tucano à entrega do Ministério da Infra-Estrutura ao PMDB não remove todos
os obstáculos. É preciso ainda desenhar a futura pasta, que abrigaria áreas hoje sob o controle do
PFL, como a de Minas e Energia.
Eventualmente, os pefelistas se
sentiriam compensados com a
criação de outro ministério, o do
Desenvolvimento Urbano, um antigo projeto de Fernando Henrique para o segundo mandato que
não saiu do papel por falta de viabilidade política.
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