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GOVERNO
Fundo é criticado por Estados
Dinheiro do
FEF vai para
miudezas
PATRICIA ZORZAN
da Reportagem Local
Prorrogado em duas ocasiões
com o objetivo de custear "prioritariamente" ações nas áreas da
saúde, educação, Previdência e de
programas de interesse econômico
e social, o FEF (Fundo de Estabilização Fiscal) vem tendo parte de
seus recursos utilizados na compra
de caixas de presentes, assinatura
de jornais e até na manutenção de
aparelhos de ar-condicionado do
Palácio do Planalto.
Batizado inicialmente de FSE
(Fundo Social de Emergência), o
FEF é originário da desvinculação
de 20% da arrecadação de impostos e contribuições federais, o que
libera o governo das obrigações
impostas pela Constituição, garantindo flexibilidade de gastos.
No ano passado, o FEF destinou
cerca de R$ 30 bilhões para o caixa
da União. Para este ano, a expectativa é que a arrecadação deverá
chegar a R$ 23 bilhões.
Com a prerrogativa da livre utilização desses recursos, o governo
empregou em 99, segundo levantamento feito no Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira), R$ 60.067,70 do fundo na confecção e instalação de painéis para
a divisão de ambientes -feitos em
aglomerado (serragem imprensada) e revestidos com tecido especial nas cores azul e grafite- e de
painéis acústicos -que impedem
a passagem de som- no Ministério das Relações Exteriores.
A ordem bancária referente ao
pedido, feito pela divisão de serviços gerais do ministério, foi emitida no dia 15 de abril.
O sistema (que registra despesas
autorizadas e pagas com dinheiro
do Orçamento federal) indica o pagamento de R$ 21.254,23 para o
serviço de operação, manutenção
preventiva e corretiva e para assistência técnica do sistema de ar-condicionado central do Palácio
do Planalto e anexos.
Jornais
Também vieram do fundo R$
7.912 gastos com a assinatura de
jornais para o gabinete do ministro
do Exército, Gleuber Vieira, e R$
2.250 para o pagamento de serviços de bufê prestados por solicitação do cerimonial do Ministério
das Relações Exteriores.
De acordo com o Siafi, o FEF foi o
responsável pelo pagamento de R$
4.860 para a aquisição de ""caixas
especiais" para presentes e de R$
10.002 pela confecção de objetos de
prata e pedras brasileiras a serem
oferecidas pelo Ministério das Relações Exteriores a autoridades estrangeiras.
Outros R$ 6.119,75 do fundo foram gastos na confecção, instalação e remoção de um toldo na residência do ministro Luiz Felipe
Lampreia (Relações Exteriores),
por ocasião de um almoço oferecido pela embaixatriz Lenir Lampreia a mulheres de senadores norte-americanos.
Ainda fazem parte da lista de serviços custeados pelo FEF, entre outros, gastos com hospedagem,
aquisição de arranjos florais e locação de instalações no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro para
a realização de um evento.
Essa não é a primeira vez que os
recursos do fundo são empregados
no pagamento de despesas de rotina do governo federal. Em 95, foi
revelado o uso da verba do então
FSE na compra de goiabada cascão, passagens aéreas, tecido, toalhas de rosto, chuveiros e até de
tampas para vaso sanitário.
Para evitar novas acusações de
desvios, o governo decidiu retirar
do nome do fundo a palavra social
e acrescentou ao texto que o criou
o termo prioritariamente.
Dessa forma, os recursos do FEF
passaram a ser destinados ""prioritariamente à saúde, educação e
despesas associadas a programas
de interesse econômico e social".
""É falta de respeito. É comum dizerem (no governo) que as coisas
não são ilegais. Pode até não ser
ilegal, mas é imoral. Temos péssimos serviços de saúde e de educação. A União vem com a bandeira
de que vai reter recursos para essas
áreas e não faz isso. É um tapa na
cara da população ", disse o advogado Waldir Luiz Braga, presidente da Associação Brasileira dos
Consultores Tributários.
Segundo Braga, a utilização dos
recursos do fundo para o pagamento de serviços rotineiros pode
servir como incentivo para o aumento da sonegação. ""O contribuinte quando vê essas coisas pensa: "Pago impostos para isso?"'
Alterações
Por reduzir a base de cálculo dos
repasses dos fundos de participação de Estados e municípios, o FEF
se transformou em um dos principais pontos de conflito entre prefeitos, governadores e o presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Segundo cálculos do Tesouro
Nacional, os Estados deixaram de
receber R$ 1,2 bilhão em 98 devido
ao mecanismo. Para este ano, a
previsão de queda de receita é de
R$ 1,3 bilhão.
O Tesouro se recusou a fornecer
os números relativos aos municípios. Mas, conforme levantamento
feito pela liderança do PT na Câmara tendo como base inflação zero e arrecadação de 98 e 99 iguais à
de 97, as perdas nesse caso chegaram a R$ 574.875.112 em 98 e devem ser de R$ 103.134.104 em 99.
Em resposta à pressão exercida
principalmente pelos governadores, no início de maio o governo
anunciou alterações no fundo.
No próximo ano, os recursos orçamentários destinados a Estados
e municípios serão repassados integralmente. Mas a desvinculação
de receitas federais feita pelo FEF
dentro do Orçamento permanece.
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