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SISTEMA FINANCEIRO
Município concentra 85 das 226 pessoas que usam as contas CC-5 para enviar dinheiro ao exterior
Foz do Iguaçu é a campeã de remessas
da Agência Folha
O município
de Foz do Iguaçu (Paraná) centraliza a maioria
das ações de "laranjas" para a
remessa de divisas para o exterior, por contas CC-5 de pessoa física.
A listagem de remessas feitas por
226 "laranjas" em todo o país indica que 85 deles (37,6%) agiram a
partir de Foz, enviando para o exterior R$ 1,446 bilhão (35,7% do
total) de 1992 a 1998.
O procurador da República em
Cascavel, Celso Antônio Três, 36,
disse que nas investigações já feitas
Foz aparece como município nucleador das operações.
"Outras regiões, como Ponta Porã (MS) ou municípios de outros
Estados, são apenas satélites de
Foz", afirmou.
Isso se explicaria pela localização
geográfica de Foz, nas fronteiras
com Argentina e Paraguai.
Ponta Porã (MS), também na
fronteira com o Paraguai, aparece
como o segundo ponto mais importante de ação dos "laranjas",
registrando um total de 37 deles
(16%) agindo a partir da cidade,
enviando R$ 974 milhões para o
exterior (24% do total).
Foz do Iguaçu e Ponta Porã registram mais da metade do movimento irregular com as contas CC-5 de pessoas físicas no Brasil.
Várias remessas são feitas em nome de pessoas que utilizam falsos
CPFs (Cadastro de Pessoa Física).
Em Pedro Juan Caballero, no Paraguai (divisa com Ponta Porã), a
Agência Folha localizou a mulher e
os filhos do funileiro Guilherme
Jara, 39, "laranja" em cujo nome
teriam sido enviados R$ 128,6 milhões para o exterior por conta CC-5. A família vive na miséria.
Jara está desaparecido desde o
ano passado. Segundo sua mãe,
Roberta Risaldi Jara, 75, ele se tornou um dependente de bebidas alcoólicas e "quase um mendigo".
A família disse acreditar que a
conta milionária foi aberta por
desconhecidos que usaram indevidamente os documentos de Jara,
perdidos há alguns anos.
A mulher do funileiro, Mami Jara, 49, sobrevive com doações da
igreja adventista local. Ela disse
que sente falta de comida e medicamentos. Até o fornecimento de
água para a casa foi cortado por
falta de pagamento há mais de dois
anos -ela consegue doação de
água no hospital da cidade.
"Tenho vergonha da nossa situação. Meu marido é um coitado",
afirmou. Ela apenas sorri ao dizer:
"Imagine se um dia tivermos um
pouquinho desse dinheiro".
Mami mora com uma das três filhas que teve com Guilherme, Graziela, 3, numa casa de tábuas, onde
antes funcionava a pequena funilaria do marido. Em troca da ajuda
da igreja, ela cuida de uma senhora
paraplégica de 98 anos. Os outros
filhos do casal, de 13 e 9 anos, são
criados por uma irmã de Mami.
(JOSÉ MASCHIO, RUBENS VALENTE e
PAULO ZOCCHI)
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