São Paulo, Domingo, 30 de Maio de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Município concentra 85 das 226 pessoas que usam as contas CC-5 para enviar dinheiro ao exterior
Foz do Iguaçu é a campeã de remessas

da Agência Folha


O município de Foz do Iguaçu (Paraná) centraliza a maioria das ações de "laranjas" para a remessa de divisas para o exterior, por contas CC-5 de pessoa física.
A listagem de remessas feitas por 226 "laranjas" em todo o país indica que 85 deles (37,6%) agiram a partir de Foz, enviando para o exterior R$ 1,446 bilhão (35,7% do total) de 1992 a 1998.
O procurador da República em Cascavel, Celso Antônio Três, 36, disse que nas investigações já feitas Foz aparece como município nucleador das operações.
"Outras regiões, como Ponta Porã (MS) ou municípios de outros Estados, são apenas satélites de Foz", afirmou.
Isso se explicaria pela localização geográfica de Foz, nas fronteiras com Argentina e Paraguai.
Ponta Porã (MS), também na fronteira com o Paraguai, aparece como o segundo ponto mais importante de ação dos "laranjas", registrando um total de 37 deles (16%) agindo a partir da cidade, enviando R$ 974 milhões para o exterior (24% do total).
Foz do Iguaçu e Ponta Porã registram mais da metade do movimento irregular com as contas CC-5 de pessoas físicas no Brasil.
Várias remessas são feitas em nome de pessoas que utilizam falsos CPFs (Cadastro de Pessoa Física).
Em Pedro Juan Caballero, no Paraguai (divisa com Ponta Porã), a Agência Folha localizou a mulher e os filhos do funileiro Guilherme Jara, 39, "laranja" em cujo nome teriam sido enviados R$ 128,6 milhões para o exterior por conta CC-5. A família vive na miséria.
Jara está desaparecido desde o ano passado. Segundo sua mãe, Roberta Risaldi Jara, 75, ele se tornou um dependente de bebidas alcoólicas e "quase um mendigo".
A família disse acreditar que a conta milionária foi aberta por desconhecidos que usaram indevidamente os documentos de Jara, perdidos há alguns anos.
A mulher do funileiro, Mami Jara, 49, sobrevive com doações da igreja adventista local. Ela disse que sente falta de comida e medicamentos. Até o fornecimento de água para a casa foi cortado por falta de pagamento há mais de dois anos -ela consegue doação de água no hospital da cidade.
"Tenho vergonha da nossa situação. Meu marido é um coitado", afirmou. Ela apenas sorri ao dizer: "Imagine se um dia tivermos um pouquinho desse dinheiro".
Mami mora com uma das três filhas que teve com Guilherme, Graziela, 3, numa casa de tábuas, onde antes funcionava a pequena funilaria do marido. Em troca da ajuda da igreja, ela cuida de uma senhora paraplégica de 98 anos. Os outros filhos do casal, de 13 e 9 anos, são criados por uma irmã de Mami. (JOSÉ MASCHIO, RUBENS VALENTE e PAULO ZOCCHI)


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