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SISTEMA FINANCEIRO
Documentos usados eram falsos, assim como referências aceitas por agência bancária em São Paulo
Em 20 dias, conta movimenta R$ 3,5 mi
CRISTIANE BARÃO
enviada especial a Araraquara
RICARDO GALHARDO
da Reportagem Local
Mesmo recebendo cerca de
R$ 4.000 por
mês, o gerente
de uma concessionária da Toyota de Araraquara Antonio
Carlos Rondon Júnior, 35, foi notificado pelo Banco Central para que
explicasse a origem de R$ 3,5 milhões movimentados em uma conta em seu nome no BCN em 97.
A quantia, segundo o BC, foi remetida ao exterior no período de
19 de novembro a 9 de dezembro.
A remessa de dinheiro foi feita
por meio de cheques de conta de
uma agência do BCN de São Paulo.
Ele diz que nunca foi correntista
do banco. "Fiquei sem saber o que
havia acontecido. Sou assalariado
e nunca enviei nada para fora."
Para tentar explicar ao BC o que
havia acontecido, Rondon Júnior
pediu cópia da documentação da
conta e dos cheques citados. Ao todo, foram 26 cheques com valores
de R$ 80 mil a R$ 298 mil nominais
à Real Câmbio, uma casa de troca
de moeda de Foz do Iguaçu (PR).
Em um mesmo dia, chegaram a
ser emitidas quatro ordens de pagamento, com a mesma assinatura. Morando em Araçatuba (532
km de SP) à época, ele foi até a
agência do BCN em São Paulo para
retirar um extrato da conta e saber
o meio pelo qual ela havia sido
aberta. A conta corrente não foi localizada, nem com a apresentação
de seus documentos originais.
Com base na documentação fornecida pelo BC, ele descobriu que a
conta corrente foi aberta no dia 4
de novembro de 97, e os talões de
cheques, emitidos no dia 11.
O RG utilizado como documento
tinha os mesmos dados do registro
original, mas a foto de identificação havia sido trocada. Na fotografia, a data e a camisa eram as mesmas, mas o rosto era de uma pessoa desconhecida.
A Folha constatou que a conta de
Rondon Júnior -que na foto abaixo não quis mostrar seu rosto- na
agência 013 do BCN foi desativada.
Ao tentar fazer um depósito em
seu nome na sexta-feira, funcionários do banco informaram que a
conta foi bloqueada, provavelmente por falta de movimentação.
Também foi possível constatar
que o endereço das pessoas citadas
como referências comerciais para
abertura da conta é falso.
Uma das exigências para a abertura de conta corrente no BCN é a
apresentação de pelo menos duas
pessoas que atestem a idoneidade
do candidato a correntista.
As referências da ficha de Rondon Junior são Rita de Cássia Moreira Ronchi e Fernando Bruno
Carignani. No endereço que está
na ficha funciona uma lanchonete.
Mas ninguém com esses nomes
trabalhou lá. "Acho que passaram
endereço falso. Essas pessoas nunca trabalharam aqui", disse Jovelina Martins, gerente da lanchonete
desde a inauguração. Detalhe: a
lanchonete fica exatamente em
frente à agência do BCN onde a
conta foi aberta.
A gerente-geral que autorizou a
abertura da conta em nome de
Rondon Junior, Rosa Maria de Nazare Nardi, disse que não tinha
controle sobre as contas e não se
lembra do caso. "Não conheço todas as pessoas físicas. O responsável por checar os dados dos correntistas é o gerente-operacional."
Ela se recusou a comentar o fato
de uma pessoa física movimentar
R$ 3,5 milhões em 20 dias ter passado despercebido.
A gerente-operacional à época
era Heloisa Helena Alves Castro
Libanone. Ela também disse que
não se lembra do caso. A assessoria
de imprensa do banco informou
que o BCN não pode se manifestar
sobre o caso, sob o risco de ferir o
sigilo bancário garantido por lei.
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