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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ESTATAIS
Em 2003, comissão dos Correios negociou com empresas de transporte aéreo e conseguiu reduzir valores pagos em R$ 64 mi
Auditoria aponta problemas em contratos
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Relatório confidencial de uma
auditoria interna dos Correios
apontou "metodologia inconsistente da estimativa de preços" e
"controles deficientes" no pagamento às empresas de transporte
aéreo noturno, além de pagamentos irregulares (não previstos) para uma empresa de consultoria.
O volume de pagamentos sob
investigação dos auditores superou R$ 1,2 bilhão num período de
cinco anos (1999-2003) e na vigência de 59 contratos. O transporte aéreo noturno, operado por
uma diretoria dos Correios da cota de indicações do PT, foi alvo de
denúncias de Roberto Jefferson
(PTB-RJ). O relatório da auditoria, que se estendeu por dez meses
(janeiro a outubro de 2004), está
em poder da CPI dos Correios.
A RPN (Rede Postal Aérea Noturna) consistia, em dezembro de
2003, em 23 linhas cumpridas por
aviões fretados total ou parcialmente pelos Correios para transporte de material postal. O custo
atual é de R$ 340 milhões anuais.
O volume transportado cresceu
de 125 mil toneladas, em 1999, para 152 mil toneladas em 2003. Isso,
em tese, deveria reduzir o preço
da operação. Paradoxalmente, o
custo médio por tonelada transportada subiu de R$ 1.100 para R$
2.300 por tonelada.
O ponto de partida da auditoria
foi uma redução expressiva de valores (R$ 64 milhões) obtida por
uma comissão de negociação instituída pelos Correios em setembro de 2003. Desse total, os auditores concluíram que R$ 7 milhões foram provenientes de negociações diretas com as companhias aéreas. Uma das empresas,
a Beta Transporte Aéreo, que operava de Recife a Porto Alegre,
aceitou abater R$ 3,3 milhões de
seu contrato. Outros R$ 57 milhões da redução ocorreram num
só contrato: a empresa que executava o serviço anterior por R$ 56,7
milhões por seis meses, a Skymaster Airlines, aceitou fazê-lo por R$
56,4 milhões por 12 meses.
A auditoria concluiu que a estatal deve aprimorar seus controles
no pagamento às empresas, tidos
como "deficientes". Ela apontou
"inconsistência entre preços praticados, estimados e contratados"
em duas linhas sob responsabilidade da Skymaster, "falta de justificativa consistente para alteração
da quantidade da carga contratada" e "unidade de medida inadequada para avaliação do grau de
ocupação da aeronave".
Outro lado
A assessoria dos Correios disse
que a estatal "procura enquadrar
as desconformidades identificadas em diferentes graus". Elas são
submetidas ao presidente do
Conselho de Administração, que
determina as providências a serem tomadas.
Em nota publicada no dia 27, os
Correios dizem que os valores pagos pelos serviços da RPN estão
corretos: "A evolução acumulada
de 42% no valor da hora voada,
para um período de 3,5 anos, está
compatível com as variações de
indicadores como o combustível
(197%) e o IGPM (69%)".
Segundo a nota, os valores pagos à Skymaster foram alterados
"em função do número e do tipo
de linhas operadas, da maior ou
menor demanda de serviços no
setor e dos fatores de custo do segmento de transporte aéreo".
A Skymaster afirma que venceu
concorrência precedida por audiência pública, na forma da lei,
da qual participaram todas as empresas aéreas nacionais.
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