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Relator recua e desiste de alterações
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em nova versão do relatório
preliminar da reforma tributária,
o relator, deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG), recuou
nas principais alterações que havia incluído no texto original do
governo e desencadeou uma onda generalizada de críticas na comissão especial da Câmara encarregada de analisar o projeto.
Saíram do relatório de Guimarães o prazo adicional para a concessão de benefícios fiscais pelos
Estados e a regra que privilegiava
os Estados consumidores na partilha dos recursos do ICMS. Esses
temas, diz o documento, "foram
remetidos como sugestão para
entendimentos entre o governo
federal e governadores".
Também desapareceram propostas que atendiam a pressões
do empresariado, como o fim do
IPI sobre a aquisição de máquinas
e equipamentos e a noventena
(prazo mínimo de 90 dias entre a
criação e a cobrança de um novo
imposto ou alíquota).
O novo texto foi apresentado
em uma sessão de quase três horas de protestos e críticas ao relator, aberta com o anúncio de que
o ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) havia pedido uma reunião com os membros da comissão, marcada para amanhã.
"A coragem que o relator vem
apresentando tem de permanecer
no relatório", disse o governista
Sandro Mabel (PL-GO), que ganhou aplausos ao concluir, dirigindo-se a Virgílio Guimarães:
"Pelo amor de Deus, jogue essa
versão do relatório fora".
Dos 23 deputados que falaram
ao microfone, 20 criticaram o novo texto. A única defesa convicta,
ironicamente, foi feita por um tucano: Walter Feldman, colega de
partido e de Estado do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP),
beneficiado pelos recuos.
Os ataques foram motivados
pela percepção de que Guimarães
privilegiou o interesse do Planalto
e dos governadores em detrimento do acertado na comissão.
O neolulista Delfim Netto (PP-SP) ironizou a volta às propostas
iniciais do governo: "Para usar
uma expressão do companheiro
Lula, essa reforma é economicista
-e, pior, fiscalista".
"Pancadaria"
Após a sessão, o relator minimizou as críticas ("a pancadaria foi
até pequena") e negou que tivesse
cedido a pressões do governo:
"Nunca recebi pressões de ninguém". Disse ter remetido ao governo federal e aos governadores
temas que "dizem respeito diretamente aos entes federativos, participantes legítimos do debate".
Admitiu ter errado ao prometer, na semana passada, que proporia tirar da Constituição a regra
que dá aos Estados consumidores
a receita do ICMS sobre petróleo e
energia elétrica. A ausência da
proposta no texto de ontem revoltou deputados de Rio, Paraná e
outros Estados produtores.
Segundo ele, sua idéia anterior
de remeter a decisão ao Senado é
inexequível: "Eu cochilei nessa".
A desoneração dos investimentos, muito cobrada por empresários e deputados, ficou para as negociações entre o Planalto e os governadores. E a noventena, disse,
saiu do texto porque acabou considerada "inoportuna", num momento em que o ICMS passará
por uma "revolução".
Com o impasse, ganham força
as previsões de que será necessário estender o prazo da comissão,
de 40 sessões, que pode acabar na
próxima semana. O próprio Guimarães avalia que é "improvável"
haver um texto pronto para a votação amanhã, quando termina a
convocação extraordinária.
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