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São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2003

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BASTIDORES

Reunião no sábado prevê discurso "mais duro"

Cúpula do governo discute crise e decide reafirmar apoio a Palocci

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião sigilosa com o presidente Lula no último fim de semana, o "núcleo duro" governista manifestou preocupação com o recrudescimento das invasões e com os "sinais desencontrados" que o governo vem emitindo para a opinião pública e para os investidores internacionais. Decidiu enfatizar o discurso da estabilidade política e econômica e evitar "o isolamento" do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Avaliou-se que as invasões no campo e nas cidades, as manifestações de servidores no Congresso, a ameaça de greve de juízes e as cobranças de queda dos juros (inclusive de setores do governo) estão produzindo ansiedade e sinais de perda de controle sobre a situação social. Ora o governo endurece, ora amacia o discurso.
Isso pode estimular maior pressão sobre a política econômica e começar a se refletir, por exemplo, no risco-Brasil, índice que mede a confiança dos investidores internacionais. Daí a necessidade de reforçar a posição de Palocci, que é o fiador da política econômica, foi decisivo para evitar uma desfiguração da reforma da Previdência e está negociando a tributária com os governadores.
A conversa foi no sábado, em sigilo, antes de Lula embarcar para São Paulo. Participaram os ministros Palocci, José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Comunicação e Ação Estratégica). Eles acertaram falar "mais duro" e ampliar os apoios contra as invasões ilegais do MST e dos sem-teto. Decidiram também reforçar "as alianças" em torno de Palocci. A tentativa é isolar a tensão social da política econômica, evitando que uma seja considerada reação à outra e acabe aumentando a gritaria pela queda abrupta dos juros.
Ontem mesmo a reunião começou a render resultados, com setores do governo discutindo a conveniência de convidar Eugênio Staub para conversar em Brasília. Staub teve atuação marcante na campanha eleitoral de 2002, ao ser o primeiro grande empresário a apoiar Lula publicamente. Agora, cobra "medidas imediatas" para gerar o crescimento.
Além de se aproximar do setor produtivo, que exige simultaneamente estabilidade e crescimento, o "núcleo duro" quer reforçar sua interlocução com os movimentos sociais, especialmente o MST, e fortalecer suas bases no Congresso, para tentar reduzir o grau de crítica dos partidos aliados.
A palavra de ordem das articulações é "governabilidade". O "núcleo duro" acha que o governo do PT não pode ficar a reboque da agenda que eles traçam nem passar a idéia de titubear diante da quebra da lei. O clima de insegurança, na avaliação dos ministros próximos a Lula, não é tão grande quanto às vezes transparece na imprensa, mas o efeito pode ser muito negativo na percepção de investidores estrangeiros.
Eles já vêem com desconfiança manifestações como a do ministro Miro Teixeira (Comunicações) contra reajustes de tarifas de telefonia -confundidas com "ameaça de quebra de contrato".


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