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BASTIDORES
Reunião no sábado prevê discurso "mais duro"
Cúpula do governo discute crise e decide reafirmar apoio a Palocci
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião sigilosa com o presidente Lula no último fim de semana, o "núcleo duro" governista
manifestou preocupação com o
recrudescimento das invasões e
com os "sinais desencontrados"
que o governo vem emitindo para
a opinião pública e para os investidores internacionais. Decidiu
enfatizar o discurso da estabilidade política e econômica e evitar "o
isolamento" do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Avaliou-se que as invasões no
campo e nas cidades, as manifestações de servidores no Congresso, a ameaça de greve de juízes e as
cobranças de queda dos juros (inclusive de setores do governo) estão produzindo ansiedade e sinais
de perda de controle sobre a situação social. Ora o governo endurece, ora amacia o discurso.
Isso pode estimular maior pressão sobre a política econômica e
começar a se refletir, por exemplo, no risco-Brasil, índice que
mede a confiança dos investidores internacionais. Daí a necessidade de reforçar a posição de Palocci, que é o fiador da política
econômica, foi decisivo para evitar uma desfiguração da reforma
da Previdência e está negociando
a tributária com os governadores.
A conversa foi no sábado, em sigilo, antes de Lula embarcar para
São Paulo. Participaram os ministros Palocci, José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Comunicação e Ação Estratégica). Eles acertaram falar "mais duro" e ampliar
os apoios contra as invasões ilegais do MST e dos sem-teto. Decidiram também reforçar "as alianças" em torno de Palocci. A tentativa é isolar a tensão social da política econômica, evitando que
uma seja considerada reação à
outra e acabe aumentando a gritaria pela queda abrupta dos juros.
Ontem mesmo a reunião começou a render resultados, com setores do governo discutindo a
conveniência de convidar Eugênio Staub para conversar em Brasília. Staub teve atuação marcante
na campanha eleitoral de 2002, ao
ser o primeiro grande empresário
a apoiar Lula publicamente. Agora, cobra "medidas imediatas"
para gerar o crescimento.
Além de se aproximar do setor
produtivo, que exige simultaneamente estabilidade e crescimento,
o "núcleo duro" quer reforçar sua
interlocução com os movimentos
sociais, especialmente o MST, e
fortalecer suas bases no Congresso, para tentar reduzir o grau de
crítica dos partidos aliados.
A palavra de ordem das articulações é "governabilidade". O
"núcleo duro" acha que o governo do PT não pode ficar a reboque
da agenda que eles traçam nem
passar a idéia de titubear diante
da quebra da lei. O clima de insegurança, na avaliação dos ministros próximos a Lula, não é tão
grande quanto às vezes transparece na imprensa, mas o efeito pode
ser muito negativo na percepção
de investidores estrangeiros.
Eles já vêem com desconfiança
manifestações como a do ministro Miro Teixeira (Comunicações) contra reajustes de tarifas de
telefonia -confundidas com
"ameaça de quebra de contrato".
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