São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998

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Viúva pede e FHC promete que nem todo o dinheiro da privatização abaterá dívida

RENATA GIRALDI
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o "grosso dos recursos" arrecadados com a privatização da Telebrás, mais de R$ 22 bilhões, será utilizado para "abater dívidas do governo", mas que haverá investimentos em outros setores.
"Os recursos superaram em muito o que nós imaginávamos. Então vou conversar com o ministro da Fazenda (Pedro Malan) para ver se na idéia dele, e na minha também, nós temos alguma outra destinação", afirmou FHC.
O princípio imposto pela equipe econômica é que todo o dinheiro arrecadado nas privatizações seja usado apenas para abater dívida pública. FHC mudou os planos porque não resistiu ao pedido feito ontem pela viúva do ministro Sérgio Motta (Comunicações).
Wilma Motta fez o pedido ao ser recebida pelo presidente ontem à tarde, depois de encerrado o leilão -estava acompanhada do ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros. No início da noite, ao visitar também o comitê de campanha de FHC, ela disse que gostaria de ver a posição de Sérgio Motta respeitada.
"Espero que o resultado da privatização não vá só para a dívida pública, mas que parte seja usada para resgatar a herança cruel da questão social no país", afirmou.
Os ministérios da Fazenda e do Planejamento não quiseram se pronunciar sobre a promessa de FHC desviar recursos da privatização para outros fins que não o abatimento da dívida. Isso já aconteceu na privatização da Vale do Rio Doce, ano passado, também por imposição de Motta.
O governo destinou 50% dos recursos obtidos para investimentos na área social e de modernização da infra-estrutura econômica.
Sem citar nomes nem partidos, FHC condenou os setores contrários à venda da Telebrás que tentaram por meio de liminares suspender o leilão. "Essa guerrilha política não prosperou por meio dessas liminares infinitas e sem nenhuma base objetiva", disse ele.
O presidente afirmou que houve uma "tentativa de utilização da Justiça como instrumento de luta" contra a decisão de privatização da Telebrás, tomada pelo Congresso. "A privatização é um processo aprovado pelo Legislativo e as decisões são do Executivo. A responsabilidade é do Executivo."
Reeleição
Segundo FHC, os que condenaram os valores estabelecidos para o preço mínimo e apostaram na derrota do governo no leilão fizeram "uma crítica irresponsável". Para ele, essas pessoas poderiam ter "impedido o Brasil de dar um passo na sua modernização".
FHC negou que obterá vantagens para sua reeleição com a venda do sistema Telebrás. "Isso (a privatização) conta é a favor do Brasil, do povo brasileiro."
O presidente disse lamentar os tumultos ocorridos no Rio durante a realização do leilão e definiu-os como "pequenos". "Não quero nem me referir a acontecimentos desta natureza porque deslustram (desonram) a convivência democrática."
FHC afirmou que deverão ser arrecadados cerca de R$ 5 bilhões a partir da venda das empresas-espelho (constituídas para concorrer com a banda A).
Comitê
O comitê de campanha de FHC acompanhou pela Internet o leilão do Sistema Telebrás.
Ao comemorar o resultado, o coordenador político da campanha, Euclides Scalco, criticou o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
"Desmoralização é uma palavra forte. Foi mais um equívoco, um engano dele (Lula)", afirmou Scalco, quando questionado sobre os efeitos do resultado da privatização para o petista. O candidato petista é contra a privatização.
"O ágio de mais de 60% é uma resposta às críticas da oposição", completou. Mais do que o resultado do leilão, o comando político comemorou a "estratégia equivocada" da oposição, que combateu a privatização da Telebrás.
Na campanha de 1994, Lula também bateu forte no Plano Real -o PT disse que era uma "estelionato eleitoral".
Para o comando político, o resultado do leilão foi um "sucesso". No entanto, segundo Scalco, o resultado da privatização não será usado na campanha de FHC.
"Não vamos explorar na campanha. É um ato (o leilão) administrativo de sucesso e terá reflexo positivo para o governo. É evidente que trará reflexo positivo também para a campanha", afirmou.



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