São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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SUDAM

Jader teria ficado com R$ 8,8 mi, segundo denúncia

Força-tarefa tem acesso a 47 contas para rastrear desvios do Maranhão

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A força-tarefa do Ministério Público Federal terá acesso à movimentação de 47 contas bancárias, a maioria pertencente a doleiros, para rastrear lavagem de dinheiro da parte desviada dos R$ 44,1 milhões liberados ao projeto Usimar, do Maranhão.
O projeto obteve recursos da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), mas a indústria de autopeças de São Luís não saiu do papel.
A Justiça Federal no Paraná autorizou a quebra do sigilo bancário no início deste mês. O processo corre em segredo de Justiça. O procurador da República Nazareno Wolff, do Paraná, disse esperar para até o final do mês de setembro um avanço dessa parte das investigações.
A quebra de sigilo foi autorizada no Paraná porque a sede das empresas do controlador do projeto, Teodoro Hübner Filho, fica em Curitiba. Os cheques liberados pela Sudam pararam, inicialmente, em três empresas do grupo.
Outros processos de quebra de sigilo bancário de doleiros e empresas de fachada que movimentaram o dinheiro desviado da Sudam já estão em andamento nos Estados do Pará, Tocantins e Paraná. A autorizada neste mês no Paraná, entretanto, é a maior numericamente.
Doze das contas seriam vinculadas a empresas e doleiros que teriam movimentado dinheiro para o ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PR). A denúncia levada pelo Ministério Público Federal à Justiça Federal do Tocantins afirma que Jader ficou com cerca de R$ 8,8 milhões dos R$ 44,1 milhões liberados para a Usimar. Corresponderia à comissão cobrada por ele, para intermediar a aprovação do projeto, segundo a denúncia.
Os procuradores da força-tarefa chegaram a essa conclusão com os primeiros rastreamentos de cheques e o depoimento de Amauri Cruz dos Santos, lobista do projeto junto à Sudam. Ao Ministério Público, ele disse ter combinado a comissão diretamente com Jader Barbalho, em um encontro em Belém (PA). Também disse ter levado os cheques correspondentes à comissão e entregue a prepostos do ex-senador.
Santos era a ponte que ligava o empresário Teodoro Hübner Filho, de Curitiba, ao esquema da Sudam nos Estados do Pará e do Maranhão. As contas do lobista e do controlador da Usimar também estão sendo rastreadas pela força-tarefa.
Entre as empresas que movimentaram o dinheiro desviado da Usimar, aparecem a Logística Operações Promocionais de Eventos, de São Paulo, e a Condor Factoring Fomento Comercial e a Yahweh Nissi Importadora e Exportadora, do Rio de Janeiro. A Logística já é alvo de três investigações em Belém.
Há ainda na lista dezenas de nomes de pessoas físicas que teriam movimentado somas que variaram de R$ 100 mil a R$ 200 mil. Cinco mantêm contas bancárias em cidades gaúchas na divisa com o Uruguai. Os procuradores suspeitam que parte do dinheiro tenha sido desviada ao exterior via Uruguai.

Sistema
O procurador Wolff explica que os doleiros operam no país "um sistema de compensação próprio", e que o rastreamento de todas as contas pode levar à recuperação de pelo menos parte dos recursos que foram desviados da superintendência.
O projeto Usimar foi aprovado em dezembro de 1999, no Conselho Deliberativo da Sudam. O custo inicial estimado para a fábrica de autopeças foi de R$ 1,3 bilhão. Houve apenas duas liberações. Os financiamentos da Sudam foram suspensos com o surgimento das denúncias de fraude contra Jader Barbalho, pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).



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