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Zé Celso instala mal-estar na festa petista
XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Ao seu modo dionisíaco, o
ator e diretor de teatro José Celso Martinez Correia trouxe o
"mal-estar" que pretendia para
o festivo encontro de artistas e
intelectuais com o candidato
do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. "Eu não me
importo de ser o estraga-prazeres", disse, enfrentando um ensaio de vaias que suplantou
com a sua contundência.
"Vaiem, vaiem, não vim aqui
só para aparecer em foto".
Zé Celso criticou as ações do
PT, e disse, para choque do salão de estrelas, que ainda não
era certo o seu voto em Lula.
"Ele está lindíssimo, mas vim
aqui trazer o mal-estar, o mal-estar que sinto", discursou, na
frente de um Chico Buarque sério, um Zeca Pagodinho com
riso irônico, e um professor
Antonio Candido reflexivo.
O ator acusou a prefeita Marta Suplicy de promover um
"assassinato à cultura", ao permitir que o grupo Silvio Santos
erga um centro empresarial na
área teatral do Bexiga. "Vão
construir um paraíso para executivos com o apoio do PT,
destruindo uma parte importantíssima para as artes e a vida
de São Paulo", disse. "Estou sofrendo muito com o PT".
Depois do princípio de vaias,
conseguiu silenciar a festa e incomodar os promotores. A
apreensão ia crescendo. "A cultura não pode ter apenas esse
lado de celebridades", cutucou.
Quando o ator Antonio Grassi, secretário de Cultura do Rio
e mestre de cerimônias do
evento, chamou Zé Celso para
falar, a platéia estava preparada
para o riso. O "mal-estar", no
entanto, é que foi instalado.
O "susto" com as ações de
Marta, segundo o ator, o fazia
desconfiar de um governo petista no país. O teatrólogo reclamou da ausência do senador
Eduardo Suplicy, escanteado,
ao seu modo de ver, no partido.
"São muitas coisas estranhas.
Não sei em quem votar. Só voto
se tiver uma mudança no PT
para deixar de ser economicista". Para desejar sorte a Lula,
lembrou a velha gíria do mundo dos atores: "Merda para você, eu quero que o Lula ponha a
mão na merda".
No seu discurso, Lula respondeu a Zé Celso. Falou do corporativismo dos artistas, cada
qual defendendo a sua área, e
disse que o mal das pessoas é
que situavam a cabeça conforme fincavam os seus pés em
um lugar, insinuando que o
ator não poderia pensar apenas
no seu problema no Bexiga.
Mais tarde, Zé Celso disse à
Folha que tendia a votar em
Lula, mas não deixava o encontro decidido. "Ao trazer essa
questão eu não estava falando
apenas do Bexiga ou sendo corporativista, tratava, de forma
simbólica, de coisa maior".
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