São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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Zé Celso instala mal-estar na festa petista

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Ao seu modo dionisíaco, o ator e diretor de teatro José Celso Martinez Correia trouxe o "mal-estar" que pretendia para o festivo encontro de artistas e intelectuais com o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. "Eu não me importo de ser o estraga-prazeres", disse, enfrentando um ensaio de vaias que suplantou com a sua contundência. "Vaiem, vaiem, não vim aqui só para aparecer em foto".
Zé Celso criticou as ações do PT, e disse, para choque do salão de estrelas, que ainda não era certo o seu voto em Lula.
"Ele está lindíssimo, mas vim aqui trazer o mal-estar, o mal-estar que sinto", discursou, na frente de um Chico Buarque sério, um Zeca Pagodinho com riso irônico, e um professor Antonio Candido reflexivo.
O ator acusou a prefeita Marta Suplicy de promover um "assassinato à cultura", ao permitir que o grupo Silvio Santos erga um centro empresarial na área teatral do Bexiga. "Vão construir um paraíso para executivos com o apoio do PT, destruindo uma parte importantíssima para as artes e a vida de São Paulo", disse. "Estou sofrendo muito com o PT".
Depois do princípio de vaias, conseguiu silenciar a festa e incomodar os promotores. A apreensão ia crescendo. "A cultura não pode ter apenas esse lado de celebridades", cutucou.
Quando o ator Antonio Grassi, secretário de Cultura do Rio e mestre de cerimônias do evento, chamou Zé Celso para falar, a platéia estava preparada para o riso. O "mal-estar", no entanto, é que foi instalado.
O "susto" com as ações de Marta, segundo o ator, o fazia desconfiar de um governo petista no país. O teatrólogo reclamou da ausência do senador Eduardo Suplicy, escanteado, ao seu modo de ver, no partido.
"São muitas coisas estranhas. Não sei em quem votar. Só voto se tiver uma mudança no PT para deixar de ser economicista". Para desejar sorte a Lula, lembrou a velha gíria do mundo dos atores: "Merda para você, eu quero que o Lula ponha a mão na merda".
No seu discurso, Lula respondeu a Zé Celso. Falou do corporativismo dos artistas, cada qual defendendo a sua área, e disse que o mal das pessoas é que situavam a cabeça conforme fincavam os seus pés em um lugar, insinuando que o ator não poderia pensar apenas no seu problema no Bexiga.
Mais tarde, Zé Celso disse à Folha que tendia a votar em Lula, mas não deixava o encontro decidido. "Ao trazer essa questão eu não estava falando apenas do Bexiga ou sendo corporativista, tratava, de forma simbólica, de coisa maior".


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