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ELIO GASPARI
Jobim, o maestro do voto de lista
O ex-ministro do STF (e
ex-deputado) quer uma reforma política que transforme frango em ovo
NELSON JOBIM, ex-ministro da
Justiça, ex-deputado e juiz
aposentado do Supremo Tribunal Federal, deu aos repórteres
Gustavo Krieger e Fernanda Guzzo
uma entrevista que machuca o ex-ministro, ofende o ex-deputado e
constrange o ex-juiz.
Seu pleito é a instituição do voto
de lista para a eleição de todos os deputados. Trata-se de confiscar a
prerrogativa do cidadão de votar em
candidatos, dando-lhe o direito de
escolher apenas o partido. Assim, os
caciques organizam uma lista, os
eleitores votam na sigla e a Câmara
dos Deputados será ocupada pelos
candidatos, na ordem em que foram
alinhados pela nomenklatura. Apresentar uma proposta dessas no entardecer de um ano legislativo durante o qual foram indiciados em
processos criminais os ex-presidentes do PT (José Genoino), do PSDB
(Eduardo Azeredo) e do PTB (Roberto Jefferson) é algo como sugerir
que a revogação da Lei Áurea pode
reduzir o custo da mão-de-obra.
Jobim maltratou a própria biografia. Ex-deputado, diz que "a relação
do candidato proporcional é direta
com o financiador, que pode vir cobrar depois". Poder, pode, mas alguém lhe cobrou alguma coisa nos
oito anos em que esteve na Câmara?
Será que os ex-deputados Célio Borja, Aliomar Baleeiro, Adauto Lúcio
Cardoso e Bilac Pinto (para ficar só
com parlamentares que se tornaram
ministros do Supremo) aceitavam
cobrança de financiadores?
Reclamando do sistema de eleição
proporcional, o ex-ministro diz que
"para conquistar mais vagas, o partido precisa de candidatos que produzam individualmente votos". Candidatos não produzem votos. É o contrário, são os cidadãos, com seus votos, que produzem deputados.
A vontade do povo produz deputados, e a Sadia produz mortadela. Aí
está a diferença entre o sistema de
representação popular e o de produção de embutidos. Jobim também
confunde mandato com prebenda.
Propõe, por exemplo, que, na próxima Câmara, o voto de lista patrocine
a recondução de boa parte dos eleitos. Faz isso com as seguintes palavras: "Na prática, vão ter assegurado
mais um mandato".
Jobim acha que o sistema político
vai mal por conta da fraqueza dos
partidos e da força dos eleitos. Propõe enfraquecer o mandato individual e oferece um mundo melhor
anabolizando máquinas partidárias.
É a nova versão do dilema do ovo e
da galinha. Resolve-se a crise da
granja transformando frango em
ovo. Noutro ponto de sua entrevista,
Jobim condena a impugnação, pela
Justiça, das candidaturas de políticos denunciados por improbidade
pelo Ministério Público.
Dá lições ao Tribunal Superior
Eleitoral e diz que "o TSE não pode
ser personagem da campanha". O
que isso quer dizer, não explicou.
Assim como parou perto de explicar
sua leitura da alma do presidente do
Tribunal, ministro Marco Aurélio
de Mello, ao dizer que ele "é tão radical na presunção da inocência que
não admitia a prisão de alguém condenado na Justiça criminal que pudesse impetrar recurso ao Supremo". (Desembaralhando: em julho
de 2000, Mello concedeu o habeas
corpus que soltou o vigarista Salvatore Cacciola. O finório escafedeu-se e vai bem, obrigado, em Roma.)
Jobim aposentou-se do Supremo
Tribunal Federal aos 60 anos. Em
geral, os ministros trocam o "excelso
pretório" pela advocacia e até mesmo pelo silêncio. Deixam a Corte no
pleno exercício de seus direitos, mas
a boa ordem republicana sugere que
nenhum deles se candidate à condição de ombudsman do Judiciário,
cumulativa com a de cirurgião plástico do Legislativo.
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