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REALPOLITIK
Petista diz que nem Aznar é tão conservador nem ele é tão esquerdista
Nem sempre se faz o que se quer no governo, afirma Lula
ANDRÉ SOLIANI
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou ontem, no Fórum
Empresarial Mercosul-União Européia, em Brasília, que nem sempre pode fazer o que gostaria no
governo. Disse que é possível ter
posições ideológicas, mas, na hora de governar, "é pão, pão, queijo, queijo". E mais uma vez diz
que não é "tão esquerdista". Na
presença do primeiro-ministro
da Espanha, José María Aznar, e
de empresários, Lula reafirmou a
disposição do Brasil de não se
submeter aos interesses norte-americanos nas discussões da Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) e falou da importância
de negociar com "altivez".
"Você pode fazer seu discurso
político na hora que quiser. Você
pode ter suas definições ideológicas quando quiser, mas na hora
de governar é pão, pão, queijo,
queijo. Você nem sempre faz o
que você quer. Você faz aquilo
que é importante fazer, dentro
das possibilidades."
De improviso, Lula brincou
com Aznar e, pela segunda vez,
descartou o rótulo de esquerdista.
"Passei parte da minha vida
achando que o Aznar era conservador. E ele passou parte da vida
dele achando que eu era um esquerdista. Depois de nos encontrarmos duas vezes, nem ele é tão
conservador nem eu sou tão esquerdista", disse o presidente, arrancando risos da platéia.
Na viagem que fez à Venezuela
no final de agosto, Lula já havia
afirmado que não gostava de ser
rotulado de "esquerda".
O presidente também aproveitou para, mais uma vez, dizer que
a única coisa da qual tem medo é
"mentir para meu povo".
No discurso que fez, Aznar afirmou que "a equipe econômica do
presidente Lula merece sincero
reconhecimento e elogio". O aumento do ajuste fiscal acertado
com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a elevação da taxa
de juros registrada no primeiro
semestre são dois pontos usados
por críticos do governo como
contradições entre os discursos
de Lula presidente e candidato.
À tarde, após almoço de trabalho com Lula, Aznar já havia elogiado as reformas promovidas
pelo governo, as quais considerou
fundamentais para a estabilidade
e credibilidade do país. Estão no
Congresso os projetos de emenda
constitucional das reformas da
Previdência e tributária.
O primeiro-ministro espanhol,
pela primeira vez, apoiou a intenção do Brasil de se tornar membro permanente no Conselho de
Segurança da ONU (Organização
das Nações Unidas).
Alca
Embora o fórum fosse sobre as
negociações de livre comércio entre União Européia e Mercosul,
Lula enfatizou em seu discurso de
40 minutos as relações com os Estados Unidos e o processo de criação da Alca.
Mais uma vez, Lula disse que o
Brasil não pode se apresentar à
mesa de negociação como um
país "pobrezinho e coitadinho".
"Não trabalho nunca com a
idéia de que o presidente [Jacques] Chirac [França] ou o presidente [George W.] Bush, para ajudar os pobres da América do Sul,
vão perder suas eleições nos seus
países e perder o voto dos agricultores", afirmou Lula.
A redução dos subsídios à agricultura nos países ricos é uma das
maiores reivindicações brasileiras
nas negociações comerciais.
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