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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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REALPOLITIK

Petista diz que nem Aznar é tão conservador nem ele é tão esquerdista

Nem sempre se faz o que se quer no governo, afirma Lula

ANDRÉ SOLIANI
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, no Fórum Empresarial Mercosul-União Européia, em Brasília, que nem sempre pode fazer o que gostaria no governo. Disse que é possível ter posições ideológicas, mas, na hora de governar, "é pão, pão, queijo, queijo". E mais uma vez diz que não é "tão esquerdista". Na presença do primeiro-ministro da Espanha, José María Aznar, e de empresários, Lula reafirmou a disposição do Brasil de não se submeter aos interesses norte-americanos nas discussões da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e falou da importância de negociar com "altivez".
"Você pode fazer seu discurso político na hora que quiser. Você pode ter suas definições ideológicas quando quiser, mas na hora de governar é pão, pão, queijo, queijo. Você nem sempre faz o que você quer. Você faz aquilo que é importante fazer, dentro das possibilidades."
De improviso, Lula brincou com Aznar e, pela segunda vez, descartou o rótulo de esquerdista.
"Passei parte da minha vida achando que o Aznar era conservador. E ele passou parte da vida dele achando que eu era um esquerdista. Depois de nos encontrarmos duas vezes, nem ele é tão conservador nem eu sou tão esquerdista", disse o presidente, arrancando risos da platéia.
Na viagem que fez à Venezuela no final de agosto, Lula já havia afirmado que não gostava de ser rotulado de "esquerda".
O presidente também aproveitou para, mais uma vez, dizer que a única coisa da qual tem medo é "mentir para meu povo".
No discurso que fez, Aznar afirmou que "a equipe econômica do presidente Lula merece sincero reconhecimento e elogio". O aumento do ajuste fiscal acertado com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a elevação da taxa de juros registrada no primeiro semestre são dois pontos usados por críticos do governo como contradições entre os discursos de Lula presidente e candidato.
À tarde, após almoço de trabalho com Lula, Aznar já havia elogiado as reformas promovidas pelo governo, as quais considerou fundamentais para a estabilidade e credibilidade do país. Estão no Congresso os projetos de emenda constitucional das reformas da Previdência e tributária.
O primeiro-ministro espanhol, pela primeira vez, apoiou a intenção do Brasil de se tornar membro permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

Alca
Embora o fórum fosse sobre as negociações de livre comércio entre União Européia e Mercosul, Lula enfatizou em seu discurso de 40 minutos as relações com os Estados Unidos e o processo de criação da Alca.
Mais uma vez, Lula disse que o Brasil não pode se apresentar à mesa de negociação como um país "pobrezinho e coitadinho".
"Não trabalho nunca com a idéia de que o presidente [Jacques] Chirac [França] ou o presidente [George W.] Bush, para ajudar os pobres da América do Sul, vão perder suas eleições nos seus países e perder o voto dos agricultores", afirmou Lula.
A redução dos subsídios à agricultura nos países ricos é uma das maiores reivindicações brasileiras nas negociações comerciais.


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