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Visitas visam criar relação pessoal
DO COLUNISTA DA FOLHA
Como ainda não é presidente
em exercício, o objetivo básico da
viagem do presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva, será criar
uma relação pessoal de confiança
que "lhe permita pegar o telefone
e falar diretamente com Lagos" (o
presidente do Chile, Ricardo Lagos), imagina Ricardo Ffrench-Davis, um dos mais respeitados
economistas chilenos, hoje na Cepal (Comissão Econômica para a
América Latina e o Caribe, da
ONU).
A Folha ouviu idêntico raciocínio no núcleo do novo governo
brasileiro, mas em relação ao presidente norte-americano, George
W. Bush.
Há, no entanto, uma poderosa
diferença entre Bush e Lagos: o
presidente chileno, relembra
Ffrench-Davis, tinha relacionamento pessoal e próximo com caciques do tucanato como Paulo
Renato Souza, ministro da Educação, José Serra, candidato presidencial derrotado, e com o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso (todos eles viveram
no Chile).
"Com a gente de Lula, há muito
menos intimidade", depõe o economista chileno.
Já do lado norte-americano, não
que haja intimidade entre Lula e
Bush, mas a cúpula petista ouviu
avaliações bastante positivas a
respeito do relativamente breve
contato telefônico entre os dois,
logo após a vitória eleitoral do
brasileiro.
Com Fernando Henrique Cardoso, ao contrário, a relação de
Bush foi fria, até hostil -de parte
a parte, aliás.
Em todos os três países que Lula
visitará (Argentina, Chile e EUA),
a pauta é aberta e haverá conversas isoladas com os mandatários e
discursos escritos para não haver
equívoco algum a respeito das
mensagens que o novo presidente
brasileiro quer enviar.
No Chile, há duas questões que
aflorarão com certeza: a experiência local com a previdência privada, introduzida para todos ainda
durante a ditadura Pinochet
(1973/89), e as negociações Chile/
EUA para um acordo de livre comércio.
Sobre o modelo chileno de Previdência Privada, Heraldo Muñoz
diz ser "uma boa experiência, mas
que tem muitos aspectos a aprimorar".
Sobre as negociações com os Estados Unidos, Lula certamente vai
ouvir que é uma tarefa complexa e
árdua (já faz oito anos que um
acordo é anunciado para dentro
de poucos dias ou semanas, mas
ainda não saiu).
Agora, a nova data é "até o fim
do ano", mas o embaixador Muñoz admite que há problemas nas
discussões sobre dois pontos: a
vinculação entre comércio e cláusulas trabalhistas e ambientais.
É uma lição importante para o
PT, porque o partido quer discutir com os dirigentes do Mercosul
a hipótese de o bloco sulista negociar um acordo diretamente com
os EUA, sem esperar pela Alca.
Sindicatos e entidades da sociedade civil tradicionalmente associadas ao PT sempre foram a favor de cláusulas trabalhistas e ambientais em acordos comerciais.
Significam, por exemplo, que
determinadas importações podem ser vetadas por Washington
se para produzir os bens envolvidos entrarem condições desumanas de trabalho ou depredação
ambiental.
Para o governo brasileiro, trata-se de mero protecionismo disfarçado.
Agora que se prepara para ser
governo, o PT vai ter de decidir se
fica com as teses das ONGs e sindicatos a ele ligados ou com os interesses comerciais brasileiros,
supostamente prejudicados por
tais cláusulas.
(CLÓVIS ROSSI)
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