São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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CORTE INTERNACIONAL

Indicada para representar país no TPI defende que Brasil adapte leis à legislação internacional

Desembargadora condena pressão dos EUA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Autora de livros sobre a importância do Tribunal Penal Internacional (TPI) como um esfera multilateral de entendimento entre países, Sylvia Steiner condena a pressão americana por acordos alternativos à corte.
O nome de Steiner foi escolhido oficialmente ontem em reunião dos ministros Celso Lafer (Relações Exteriores) e Paulo de Tarso Ramos Ribeiro (Justiça). O presidente Fernando Henrique Cardoso foi avisado por telefone e concordou.
Steiner também é bem vista no PT, partido que assume o governo no início de 2003, devido à sua atuação na Associação Juízes para a Democracia e na Comissão de Justiça e Paz de São Paulo.
Antes de assumir no Tribunal Regional Federal de São Paulo, Steiner, 49, advogou até 1982. Nos 13 anos seguintes fez parte do Ministério Público Estadual.
Segundo ela, o Brasil deve promover as mudanças legais para se adaptar à legislação internacional do TPI. Leia a seguir trechos de entrevista à Folha.
 

Folha - Desde que ratificou o Estatuto de Roma em junho deste ano, o Brasil sofre pressão de Washington para assinar um acordo bilateral alternativo ao TPI. O acordo deve ser fechado?
Sylvia Steiner -
Não deveria. Se for assinado, podemos ver uma situação estranha. No caso de um conflito entre Brasil e Estados Unidos em território nacional, ficaríamos obrigados a entregar os brasileiros que cometeram crime de guerra, mas não os americanos. Esse acordo não tem razão de ser.

Folha - Em tese, isso já poderia acontecer em 2003?
Steiner -
Dificilmente o TPI vai começar a funcionar nos próximos dois anos. O Tribunal da Iugoslávia nos mostrou que a elaboração de um regimento interno é superimportante.

Folha - Há urgência para que o Brasil promova as mudanças na legislação nacional?
Steiner -
Isso é outra história. O Brasil deveria o quanto antes ampliar sua jurisdição interna. Do ponto de vista internacional, o país já está obrigado a ter esse arcabouço. Mesmo que o Brasil não tenha a legislação, brasileiros poderiam ser julgados.

Folha - A sra. sabe de algum caso de desrespeito a crimes previstos no TPI que esteja acontecendo hoje e possa ir a julgamento?
Steiner -
Países africanos continuam passando por situações de genocídio e crimes de guerra e isso está no Estatuto de Roma.


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