São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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CENSO 200

Dados do IBGE mostram que 48,6% das crianças vivem em famílias cujo chefe ganha até dois salários mínimos; em 1991, taxa era de 60,5%

Pobreza infantil diminui nos anos 90

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Quase metade das crianças brasileiras de zero a seis anos é pobre: 48,6% delas -11,2 milhões de crianças- vivem em famílias em que o responsável pelo domicílio ganha menos de dois salários mínimos por mês (R$ 400).
É o que mostram os "Indicadores Sociais Municipais", publicação divulgada ontem pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com base em dados do Censo 2000.
Pelos dados do IBGE, a pobreza infantil caiu nos anos 90, já que, em 1991, 60,5% das crianças de até seis anos viviam em famílias em que o responsável ganhava menos de dois salários mínimos. Mesmo assim, para o IBGE, ainda é uma proporção muito alta de crianças em condições de pobreza.
Elas vivem em famílias sem condições de garantir a elas alimentação, saúde, educação, lazer e cuidado numa fase fundamental para o desenvolvimento infantil, a chamada primeira infância.

Critérios
O Brasil não tem uma metodologia oficial para o cálculo da linha de pobreza. A mais usada atualmente é a do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que calcula em 33,64% a proporção de pobres no conjunto da população, cerca de 57 milhões de pessoas.
São considerados pobres, para o Ipea, os que não conseguem renda suficiente para suprir suas necessidades calóricas e satisfazer necessidades de saúde, educação e transportes, por exemplo.
"Seja qual for a medida de pobreza utilizada, é inegável que essas crianças estão em famílias pobres. Dois salários mínimos mensais, numa família de quatro pessoas, dá meio salário mínimo por mês. É pouquíssimo", diz Ana Lúcia Saboia, especialista do Depis (Departamento de População e Indicadores Sociais) do IBGE.
Para a técnica do IBGE, as crianças de até seis anos devem ser alvo de políticas específicas, para que a pobreza não se perpetue de uma geração a outra.
O pediatra Naylor de Oliveira, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e membro do comitê de nutrição da Soperj (Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro), afirma que, para essas crianças, faltam coisas básicas, como comida e remédios.
"Isso, principalmente na fase de zero a três anos, deixa sequelas para o resto da vida. São sequelas não só físicas, como na altura, mas também no desenvolvimento mental. É nessa fase que o cérebro se desenvolve mais rápido e precisa de estímulo adequado."

Focos de pobreza
Os números do IBGE também permitem detectar onde o problema da pobreza infantil é mais grave, com taxas superiores a 60%: nos Estados da região Nordeste, nos municípios com até 20 mil habitantes e nas famílias chefiadas por mulheres.
Todos os Estados nordestinos têm mais de 60% das crianças de até seis anos vivendo em famílias pobres. O pior índice, em todo o país, é o do Maranhão, onde 77,4% das crianças na primeira infância vivem em famílias cujo responsável ganha menos de dois salários mínimos.
Depois do Maranhão, as maiores proporções de crianças pobres estão no Piauí (76,8%) e no Ceará (69%). Os melhores índices em todo o país estão em São Paulo (24,7%), Distrito Federal (32,8%) e Santa Catarina (35,1%).
A situação de pobreza também aumenta entre crianças que vivem em famílias chefiadas por mulheres sozinhas: nesses casos, 60,5% das crianças de até seis anos são pobres.

Equidade
"O que a gente vê é que há dois Brasis. As taxas são sempre mais altas nos municípios pequenos e nos Estados nordestinos. É preciso que isso seja levado em conta nas ações governamentais. Equidade é isso: tratar de forma desigual os desiguais", afirma Rui Pavan, oficial de educação do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e responsável pelo escritório de Salvador.
Para Pavan, apesar da redução da pobreza infantil, a taxa atual ainda é muito alta para um país como o Brasil, que está entre as 15 maiores economias do mundo. "Precisamos olhar para o Brasil real", afirma ele.


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