São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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Maioria da população infantil vive em domicílios sem abastecimento de água, rede de esgoto ou coleta de lixo; em 1991, situação era pior

Saneamento ruim afeta 54% das crianças

DA SUCURSAL DO RIO

A pobreza e as condições de vulnerabilidade das crianças na primeira infância estão relacionadas ao saneamento não adequado dos domicílios e à baixa escolaridade dos pais ou responsáveis.
Das crianças na faixa de zero a seis anos, 54,4% vivem em residências sem saneamento adequado -lugares que não têm um ou mais dos seguintes itens: abastecimento de água, esgoto conectado à rede e coleta de lixo.
Na mesma faixa etária, 36,7% vivem em famílias cujos responsáveis são analfabetos funcionais (ou seja, têm menos de quatro anos de estudo). Outro fator de vulnerabilidade é o aumento da proporção de crianças de zero a seis anos que vivem com responsáveis sem cônjuge, ou seja, não têm uma família com pai e mãe em casa. A taxa subiu de 11,2%, em 91, para 16% em 2000, somando 3,6 milhões de crianças.
Apesar de as taxas atuais ainda serem consideradas preocupantes, houve melhora em relação a 1991, quando 66,2% das crianças até seis anos viviam sem saneamento adequado e 46,7%, em famílias chefiadas por analfabetos funcionais.
As piores taxas estão nas cidades pequenas, com até 20 mil habitantes, onde cerca de 80% das crianças vivem em domicílios sem saneamento adequado. Na comparação regional, a maior proporção de crianças nessa situação está em Rondônia (92,8%), e a menor, no Distrito Federal (19,1%).
Várias doenças, como a diarréia, são transmitidas por água contaminada, lixo e esgoto. "O que se vê é um ciclo de diarréias que se torna crônico, deixando a criança frágil e sujeita a outras doenças", afirma Naylor de Oliveira, do comitê de nutrição da Soperj (Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro).
Para ele, qualquer política de combate à fome deve ter a infância como alvo prioritário, investindo também na educação dos pais e, principalmente, das mães.

Analfabetismo
A baixa escolaridade dos pais tem efeitos sobre a saúde e a educação da criança. Uma mãe com baixa escolaridade tem mais dificuldades para assimilar hábitos de higiene, reconhecer sintomas de doença e usar medicamentos.
O pior indicador de escolaridade é o Alagoas, onde 63% das crianças vivem em domicílios cujos responsáveis não concluíram quatro anos de estudo. O melhor é o de Santa Catarina (18,4%).
"Apesar dos avanços, esses dados mostram a necessidade de políticas conjuntas para o desenvolvimento infantil", afirma Rui Pavan, oficial de educação do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Ana Goretti Maranhão, coordenadora de Saúde da Criança do Ministério da Saúde, concorda que fatores como renda, escolaridade e saneamento influenciam no desenvolvimento infantil e diz que, justamente por isso, as políticas de saúde, sozinhas, não podem resolver todos os problemas.
Maranhão destaca que houve melhoras, como mostram os dados do IBGE, e afirma que o governo federal tentou desenvolver políticas que envolvam não só a criança, mas toda a família.
"A gente não pode achar que só o governo é responsável [pelo bom desenvolvimento infantil]. A sociedade também é." (FE)


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