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Maioria da população infantil vive em domicílios sem abastecimento de água, rede de esgoto ou coleta de lixo; em 1991, situação era pior
Saneamento ruim afeta 54% das crianças
DA SUCURSAL DO RIO
A pobreza e as condições de
vulnerabilidade das crianças na
primeira infância estão relacionadas ao saneamento não adequado
dos domicílios e à baixa escolaridade dos pais ou responsáveis.
Das crianças na faixa de zero a
seis anos, 54,4% vivem em residências sem saneamento adequado -lugares que não têm um ou
mais dos seguintes itens: abastecimento de água, esgoto conectado
à rede e coleta de lixo.
Na mesma faixa etária, 36,7%
vivem em famílias cujos responsáveis são analfabetos funcionais
(ou seja, têm menos de quatro
anos de estudo). Outro fator de
vulnerabilidade é o aumento da
proporção de crianças de zero a
seis anos que vivem com responsáveis sem cônjuge, ou seja, não
têm uma família com pai e mãe
em casa. A taxa subiu de 11,2%,
em 91, para 16% em 2000, somando 3,6 milhões de crianças.
Apesar de as taxas atuais ainda
serem consideradas preocupantes, houve melhora em relação a
1991, quando 66,2% das crianças
até seis anos viviam sem saneamento adequado e 46,7%, em famílias chefiadas por analfabetos
funcionais.
As piores taxas estão nas cidades pequenas, com até 20 mil habitantes, onde cerca de 80% das
crianças vivem em domicílios
sem saneamento adequado. Na
comparação regional, a maior
proporção de crianças nessa situação está em Rondônia
(92,8%), e a menor, no Distrito
Federal (19,1%).
Várias doenças, como a diarréia, são transmitidas por água
contaminada, lixo e esgoto. "O
que se vê é um ciclo de diarréias
que se torna crônico, deixando a
criança frágil e sujeita a outras
doenças", afirma Naylor de Oliveira, do comitê de nutrição da
Soperj (Sociedade de Pediatria do
Estado do Rio de Janeiro).
Para ele, qualquer política de
combate à fome deve ter a infância como alvo prioritário, investindo também na educação dos
pais e, principalmente, das mães.
Analfabetismo
A baixa escolaridade dos pais
tem efeitos sobre a saúde e a educação da criança. Uma mãe com
baixa escolaridade tem mais dificuldades para assimilar hábitos
de higiene, reconhecer sintomas
de doença e usar medicamentos.
O pior indicador de escolaridade é o Alagoas, onde 63% das
crianças vivem em domicílios cujos responsáveis não concluíram
quatro anos de estudo. O melhor
é o de Santa Catarina (18,4%).
"Apesar dos avanços, esses dados mostram a necessidade de
políticas conjuntas para o desenvolvimento infantil", afirma Rui
Pavan, oficial de educação do
Unicef (Fundo das Nações Unidas
para a Infância).
Ana Goretti Maranhão, coordenadora de Saúde da Criança do
Ministério da Saúde, concorda
que fatores como renda, escolaridade e saneamento influenciam
no desenvolvimento infantil e diz
que, justamente por isso, as políticas de saúde, sozinhas, não podem resolver todos os problemas.
Maranhão destaca que houve
melhoras, como mostram os dados do IBGE, e afirma que o governo federal tentou desenvolver
políticas que envolvam não só a
criança, mas toda a família.
"A gente não pode achar que só
o governo é responsável [pelo
bom desenvolvimento infantil]. A
sociedade também é."
(FE)
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