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Condições de saneamento, escolaridade e renda de chefes de domicílio são mais precárias nos municípios com até 20 mil habitantes
Cidades pequenas têm os piores indicadores
DA SUCURSAL DO RIO
Há hoje no Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pelo menos
28 milhões de pessoas em condições muito vulneráveis: vivem em
domicílios sem saneamento adequado, dirigidos por pessoas com
com menos de quatro anos de estudo e renda inferior a dois salários mínimos.
Estão nessa situação cerca de 7,5
milhões de domicílios, 16,7% do
total do país -uma redução em
relação a 1991, quando a taxa chegava a 26%.
Nas cidades com mais de 500
mil habitantes, a taxa de domicílios nessas condições cai para 4%.
No entanto, chega a 35,5% nos
municípios com população de até
20 mil habitantes, destacando um
problema captado pelo IBGE: os
maus indicadores sociais dos pequenos municípios.
Os "Indicadores Sociais Municipais", divulgados ontem com
base em dados do Censo 2000,
mostram que é nos municípios
com até 20 mil habitantes que estão as piores condições de saneamento, escolaridade e renda dos
chefes de domicílio. A desigualdade, uma das principais marcas da
sociedade brasileira, se repete na
comparação de acordo com o tamanho dos municípios.
Dos 5.561 municípios brasileiros, 4.074 (73,2%) têm menos de
20 mil habitantes, concentrando
19,7% da população brasileira. É
um reflexo da onda de urbanização do país, com crescimento das
grandes e médias cidades.
Já os municípios com mais 500
mil habitantes são apenas 31
(0,5% do total), mas concentram
27,5% da população.
O problema é que foram justamente os pequenos municípios
que mais se multiplicaram nos últimos anos. Dos 1.070 novos municípios surgidos de 1991 a 2000,
57% têm menos de 5.000 habitantes, e 96,2% têm menos de 20 mil
habitantes. Depois de criados, esses pequenos municípios não
conseguem se desenvolver, pois
não têm atividade econômica forte, e perdem população para as cidades maiores.
"Esses municípios acabam se
tornando absolutamente dependente dos fundos de participação
de Estados e municípios, pois não
têm base econômica de sustentação", afirma o chefe do Depis (Departamento de População e Indicadores Sociais do IBGE), Luiz
Antônio de Oliveira.
Por outro lado, afirma ele, há
casos em que a criação de novos
municípios atendeu a problemas
de fronteira e acompanhou a
emancipação econômica de distritos, principalmente no Rio
Grande do Sul -Estado com
maior número de novos municípios, 164.
A desigualdade se repete em todos os indicadores, mostrando
que o Brasil das pequenas cidades
está atrasado em relação ao desenvolvimento das grandes e médias cidades.
No mapa dos extremos do Brasil, seis municípios nordestinos
são os mais pobres entre os pequenos, com população inferior a
5.000 habitantes.
Metade dos chefes de família ganha até R$ 100 em Afonso Cunha
(MA), Fernando Falcão (MA),
Caraúbas do Piauí (PI), Joca Marques (PI), Novo Santo Antônio
(PI) e São Francisco de Assis do
Piauí (PI).
Em Campinas (município a 99
km de São Paulo), metade dos
chefes de família ganha até R$
780. É o valor mais alto entre os
grandes municípios, com mais de
500 mil habitantes.
Os municípios com menos de
20 mil habitantes têm até 26,8%
dos domicílios com saneamento
adequado, um indicador no qual
o IBGE somou coleta de lixo,
abastecimento de água e ligação
de esgoto à rede geral. Nos municípios com mais de 500 mil habitantes, a taxa sobe para 79,7%.
Nos pequenos municípios, os
responsáveis pelos domicílios não
têm mais de 3,7 anos de estudo,
em média. Nos municípios com
mais de 500 mil habitantes, a média é de 7,6 anos de estudo, ou seja, mais do que o dobro. No país,
5,7 anos.
Dos indicadores calculados pelo
IBGE, só um, o analfabetismo de
crianças com dez anos de idade,
atingiu sua pior taxa em municípios com população de 20 mil a 50
mil habitantes: 18,7%.
"Isso estaria relacionado ao fato
de que, em municípios muito pequenos, pode ser mais fácil localizar a população analfabeta e encaminhá-la à escola. Nos municípios médios, isso já é mais complicado", afirma Barbara Cobo,
técnica do Depis.
(FERNANDA DA ESCÓSSIA)
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