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JANIO DE FREITAS
A sagração da direita
A nova palavra da política brasileira tem, a par do sentido
com que foi lançada, um significado mais abrangente e de implicações mais densas. Na sua acepção
mais superficial, adotada na mídia desde que usada por Lula na
semana passada, "despetização"
refere-se a um formalismo político,
caracterizado pela diminuição da
presença petista no ministério, em
benefício de mais alianças. No sentido mais rico, a palavra exprime a
consolidação definitiva da guinada feita pelo PT/governo à direita,
com a consagração do populismo
caritativo como alicerce para a política econômica conservadora.
Em termos funcionais, a "despetização" não busca reduzir a presença do PT no dispositivo superior da administração federal,
mas, isso sim, a de um certo tipo de
integrantes da equipe que não se
desfizeram, plenamente, dos propósitos que os identificaram como
petistas e os levaram ao governo. O
que está em curso sob as aparências de rearrumação de pessoas e
funções na cúpula é, a rigor, uma
depuração de finalidade conservadora. Ou, consideradas a fisionomia política passada dos hoje governantes, de finalidade direitista.
Por depuração não se entenda a
imposição de demissões, embora
não faltem também, como no caso
inacreditável de Ana Fonseca pelo
ministro do inexistente Desenvolvimento Social, Patrus Ananias.
Mas os que estão saindo por saudade de casa, "para cuidar da vida" ou por outras causas de igual
relevância, são os mesmos que por
nada deixariam o governo que estivesse batalhando pelos compromissos empolgantes de Lula e do
PT. O punhado dos petistas e lulistas que saem está, porém, incompleto. Por indução ou por vontade
própria, outras despedidas estão
em preparo.
A expectativa dos mais atentos
para o que se passa na cúpula governamental volta-se para José
Dirceu. Com a decisão de Lula de
consolidar o conservadorismo do
governo, aproxima-se o momento
em que José Dirceu terá, forçosamente, de responder à sua própria
incógnita. O único, sem dúvida,
dotado de visão estratégica no
grupo central, Dirceu fez até hoje
um jogo duplo, de críticas insinuadas e apoios sucintos ao continuismo adotado pelo governo
desde o começo. Com isso, fosse ou
não uma intenção política, transmitiu às imagens do governo e
mesmo a Lula uma ambiguidade
que se prestou aos necessitados de
esperança a todo custo. Quando,
no entanto, o governo se desfaz
de quadros ainda ligados aos
propósitos passados, e sepulta de
vez qualquer mudança prometida (Lula: "a política vai ser essa e
não muda"), José Dirceu terá
que mostrar de vez quem é José
Dirceu, se o da biografia ou um
travestido mais discreto que os
demais. E, com saída de José Dirceu do armário, a de vários outros que ainda não se mostraram
como versões políticas da Isabelita dos Patins em beijos com o
malufismo.
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