São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Presidente rebate críticas recebidas em reunião de conselho com números da Pnad

Política econômica não é empecilho à social, diz Lula

PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de passar pelo constrangimento de ouvir duras críticas a seu governo num auditório no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Inácio Lula da Silva reagiu e defendeu que o lado bom de sua gestão tem de ser exaltado, acrescentando que "a política econômica nunca foi empecilho para a política social".
"Quero deixar claro que nós (...) colocamos, em 17 meses, R$ 29 bilhões no mercado para o consumo, independentemente da taxa Selic [de juros], via crédito consignado. Essa foi uma revolução no crédito brasileiro", afirmou.
Um dos principais pontos destacados pelo presidente foram os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e da Fundação Getulio Vargas, que mostram melhoria dos indicadores sociais e uma queda de 8% na miséria no país em 2004.
"Esses dados aqui, cada um de vocês precisa trabalhar, porque é uma arma que vocês ajudaram a construir neste governo, demonstra porque os nossos adversários do mundo político ficaram tão surpresos com os dados da Pnad", disse Lula a uma platéia de cerca de 50 integrantes do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional). "Não tem um único dado na Pnad que não seja um dado positivo da conquista do nosso governo e da sociedade brasileira", completou.
O discurso foi motivado pela fala de uma integrante do Consea, Maria Emília Lisboa. Ela afirmou que o conselho continua "preocupado e indignado com os níveis alarmantes de pobreza, de insegurança alimentar e insustentabilidade ambiental no país".
O presidente respondeu que as pessoas precisam ser "irradiadoras das coisas boas", voltou a reclamar que a mídia não divulga os feitos de seu governo e admitiu que, no passado, jogava a "culpa" nos outros. "Comecei a lembrar dos discursos que fiz a vida inteira por este país. Eu falei, "bom, não posso reclamar [das críticas] (...), porque, em algum momento, eu e outros já tínhamos dito isso"."
Em sua avaliação, as críticas podem até ser feitas, mas os dados positivos não devem ser esquecidos. "Certamente, o governo deve ter mais para fazer do que já fez. Afinal de contas, nós ainda nem completamos 36 meses de governo e muita gente gostaria que nós já fizéssemos coisas como se nós estivéssemos há 36 anos no governo. São apenas 36 meses."
Para ilustrar sua posição, o presidente falou sobre um "país imaginário": "Quem sabe, se vocês estivessem num país, viajando pelo mundo, e chegassem a um país, pegassem o jornal e lessem na primeira página a seguinte matéria: a concentração de renda naquele país que vocês estavam visitando caiu em 2004 e atingiu o melhor resultado desde 1981. Houve uma forte redução da desigualdade porque a renda dos mais pobres cresceu", começou, para ler então uma série de dados positivos.
"Esse país imaginário que nós estamos vivendo é o Brasil e é o Brasil que vocês ajudaram a construir", concluiu o presidente.
Apesar do discurso de Lula de que "a política econômica nunca foi empecilho para a política social", neste ano o governo reteve recursos ligados à área social. No último contingenciamento de verbas, em março, foram retidos R$ 9 bilhões em investimentos.
Para Selene Peres Nunes, assessora de orçamento da ONG Instituto de Estudos Socioeconômicos, "só o que sobra do pagamento de juros é alocado nas políticas públicas de modo geral".


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Retrato do Brasil/Análise: Antigamente as coisas eram piores, mas foram piorando
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.