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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O FUTURO DE PALOCCI
No seu terceiro depoimento no Congresso em três semanas, ministro associa queda da desigualdade às medidas adotadas por ele
Palocci cita redução da pobreza ao se defender
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em novo depoimento no Congresso, o terceiro em três semanas, o ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) fez mais uma vez
a defesa de sua política econômica
-agora associando-a à redução
da pobreza e da desigualdade- e
rejeitou publicamente a idéia de
que busca um aperto fiscal além
das metas oficiais.
A defesa quase explícita do
aprofundamento da política de
corte de gastos levou recentemente Palocci a um conflito aberto
com a ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil). Numa trégua firmada nesta semana, ficou acertado
que a meta de superávit fiscal (a
economia para o pagamento de
juros da dívida) será mantida, formalmente ao menos, nos 4,25%
do PIB (Produto Interno Bruto).
Nas primeiras declarações após
o acordo com Dilma, Palocci
aproveitou para minimizar os recém-divulgados números do superávit do setor público até outubro, que mostram um resultado
superior à meta de todo o ano em
mais de R$ 12 bilhões.
"Se nós fizermos uma análise
mais apurada sobre a distribuição
dos valores do superávit neste
momento, vamos ver que eles estão em torno de R$ 2 bilhões a
maior nos municípios, em torno
de R$ 2 bilhões a maior nos Estados, em torno de R$ 2 bilhões a
maior nas estatais todas e em torno de R$ 6 bilhões a maior na
União. Praticamente todos esses
R$ 6 bilhões estão disponibilizados para os ministérios e serão
aplicados", disse.
A frase dá a entender que o governo elevará seus gastos de forma a reduzir o superávit à meta
oficial até dezembro, mas não é o
que acontecerá na prática. Sabe-se que o aperto deste ano ficará
em 4,7% do PIB, porque não há
mais tempo para liberar todo o dinheiro disponível no Orçamento.
Palocci falou à comissão da Câmara que analisa a criação do
Fundeb, fundo de financiamento
do ensino básico, por cerca de sete
horas. Ao todo, suas audiências
no Congresso nas últimas três semanas acumularam 25 horas.
A de ontem foi a mais serena.
Houve apenas uma menção às
acusações de corrupção contra o
ministro, feita pelo líder do PFL,
Rodrigo Maia (RJ) -que se referiu à participação de Roberto Pinho (ex-assessor do Ministério da
Cultura beneficiado por recursos
de Marcos Valério) num projeto
de Palocci nos tempos de prefeito
de Ribeirão Preto. O ministro
apenas respondeu que Pinho não
teve contrato com a prefeitura.
Efeito social
As questões mais agressivas vieram do deputado Ivan Valente
(PSOL-SP), que acusou o ministro de pagar um "hipermensalão
de juros aos banqueiros", em detrimento dos gastos sociais.
Palocci respondeu que a política
econômica tem efeito social "fortíssimo" já visível. "Nos últimos
25 anos, as linhas da desigualdade
no Brasil são paradas. Agora passaram a ter modificações importantes", disse, em referência aos
dados do IBGE que mostram queda na concentração de renda de
2003 para 2004. O ministro também citou a queda nos índices de
pobreza, de 29,8% da população,
em 1995, para 25,1% em 2004.
"Os números não dão razão à
sua afirmação fundamental, a de
que essa política econômica produz resultados sociais piores que
os de uma política econômica que
não cuida adequadamente das
questões fiscais", disse a Valente.
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