São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O FUTURO DE PALOCCI

No seu terceiro depoimento no Congresso em três semanas, ministro associa queda da desigualdade às medidas adotadas por ele

Palocci cita redução da pobreza ao se defender

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em novo depoimento no Congresso, o terceiro em três semanas, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) fez mais uma vez a defesa de sua política econômica -agora associando-a à redução da pobreza e da desigualdade- e rejeitou publicamente a idéia de que busca um aperto fiscal além das metas oficiais.
A defesa quase explícita do aprofundamento da política de corte de gastos levou recentemente Palocci a um conflito aberto com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Numa trégua firmada nesta semana, ficou acertado que a meta de superávit fiscal (a economia para o pagamento de juros da dívida) será mantida, formalmente ao menos, nos 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto).
Nas primeiras declarações após o acordo com Dilma, Palocci aproveitou para minimizar os recém-divulgados números do superávit do setor público até outubro, que mostram um resultado superior à meta de todo o ano em mais de R$ 12 bilhões.
"Se nós fizermos uma análise mais apurada sobre a distribuição dos valores do superávit neste momento, vamos ver que eles estão em torno de R$ 2 bilhões a maior nos municípios, em torno de R$ 2 bilhões a maior nos Estados, em torno de R$ 2 bilhões a maior nas estatais todas e em torno de R$ 6 bilhões a maior na União. Praticamente todos esses R$ 6 bilhões estão disponibilizados para os ministérios e serão aplicados", disse.
A frase dá a entender que o governo elevará seus gastos de forma a reduzir o superávit à meta oficial até dezembro, mas não é o que acontecerá na prática. Sabe-se que o aperto deste ano ficará em 4,7% do PIB, porque não há mais tempo para liberar todo o dinheiro disponível no Orçamento.
Palocci falou à comissão da Câmara que analisa a criação do Fundeb, fundo de financiamento do ensino básico, por cerca de sete horas. Ao todo, suas audiências no Congresso nas últimas três semanas acumularam 25 horas.
A de ontem foi a mais serena. Houve apenas uma menção às acusações de corrupção contra o ministro, feita pelo líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ) -que se referiu à participação de Roberto Pinho (ex-assessor do Ministério da Cultura beneficiado por recursos de Marcos Valério) num projeto de Palocci nos tempos de prefeito de Ribeirão Preto. O ministro apenas respondeu que Pinho não teve contrato com a prefeitura.

Efeito social
As questões mais agressivas vieram do deputado Ivan Valente (PSOL-SP), que acusou o ministro de pagar um "hipermensalão de juros aos banqueiros", em detrimento dos gastos sociais.
Palocci respondeu que a política econômica tem efeito social "fortíssimo" já visível. "Nos últimos 25 anos, as linhas da desigualdade no Brasil são paradas. Agora passaram a ter modificações importantes", disse, em referência aos dados do IBGE que mostram queda na concentração de renda de 2003 para 2004. O ministro também citou a queda nos índices de pobreza, de 29,8% da população, em 1995, para 25,1% em 2004.
"Os números não dão razão à sua afirmação fundamental, a de que essa política econômica produz resultados sociais piores que os de uma política econômica que não cuida adequadamente das questões fiscais", disse a Valente.


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