São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O MARQUETEIRO

Marqueteiro justifica transferência a ex-tesoureiro do PT; operação foi detectada por CPI

Duda dá R$ 10 mil a Delúbio e diz ser aposta sobre Serra

MARTA SALOMON
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Durante a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, o marqueteiro Duda Mendonça e o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, teriam feito uma aposta. Sem levar em conta o desempenho do candidato nas pesquisas, Duda teria oferecido R$ 10 mil pelo palpite de que o tucano José Serra nem chegaria ao segundo turno das eleições de 2002.
A história da aposta foi contada ontem pelo marqueteiro e pelo ex-tesoureiro petista. Seus advogados a apresentaram como justificativa para a transferência de R$ 10 mil da conta de Duda para a de Delúbio em setembro de 2003. A operação foi detectada pela CPI dos Correios, com base na quebra do sigilo bancário de Duda.
"Ele apenas honrou uma aposta feita numa conversa de amigos, enquanto tomavam uma cerveja", disse o advogado do marqueteiro, Tales Castelo Branco. Delúbio, se perdesse a aposta, pagaria R$ 1.000 a Duda, contou Flávia Rahal, sócia do advogado do ex-tesoureiro, Arnaldo Malheiros.
Mais do que desvendar o motivo do pagamento de R$ 10 mil a Delúbio, a CPI quer chegar à origem e ao destino de cerca de R$ 400 milhões movimentados pelo marqueteiro no BankBoston nos últimos cinco anos. O valor refere-se ao montante de operações cujas informações chegaram incompletas à CPI e que ameaçam as conclusões dos trabalhos.
"Não significa que esteja havendo má-fé dos bancos, não temos como afirmar isso, mas a falta de informações prejudica as investigações", avalia o sub-relator de movimentação financeira, Gustavo Fruet (PSDB-PR). "Estamos diante de um queijo suíço."
Segundo a Folha apurou, de 1,3 milhão de operações bancárias rastreadas pela CPI, 40 mil não têm origem ou destino especificados. Falhas aparecem nas informações fornecidas por BankBoston, Rural e Banco do Brasil.
O depósito de R$ 10 mil feito por Duda na conta de Delúbio, por exemplo, já havia aparecido antes como crédito de origem não informada na quebra do sigilo do ex-tesoureiro petista.
A CPI também localizou a transferência bancária de R$ 19,7 mil da corretora Stockolos Avendis EB Empreendimentos, Intermediações e Participações Ltda., do doleiro Lúcio Funaro, um dos fundadores da Guaranhuns Empreendimentos. As duas empresas estão sob investigação da CPI.
Segundo o advogado de Duda, a transferência bancária feita em 12 de maio deste ano pela corretora faz parte do pagamento ao marqueteiro da venda de bois de uma fazenda sua no Pará.
Duda recebeu R$ 15,5 milhões do caixa dois do PT. Parte do dinheiro (R$ 10,5 milhões) foi para uma conta nas Bahamas.

Relatório
Pressionado a incluir o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e ex-tesoureiro deste Cláudio Mourão em seu parecer, Gustavo Fruet decidiu citar também no documento o ex-presidente do PT José Genoino, o tesoureiro do PL Jacinto Lamas e Duda Mendonça.
Petistas estão passando um pente-fino no relatório. Eles não aceitam, por exemplo, a expressão "projeto de hegemonia" para definir a atuação do PT federal.
Ainda não há acordo para a votação do relatório, prevista para a próxima quinta-feira. Para resolver o impasse, esse texto deve ser refeito e incorporado a um relatório que será apresentado pelo relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) até o dia 15 de dezembro.


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