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ELIO GASPARI
As leis da burocracia
no apocalipse
Em janeiro de 1969, o presidente Richard Nixon foi ao
Pentágono e ouviu um número
assustador. A máquina militar
americana planejara-se para um
ataque nuclear capaz de matar
80 milhões de russos em poucas
horas. (Um ataque russo mataria
a mesma quantidade de americanos.) Nixon achou que não era
racional começar a briga jogando 3.000 bombas na União Soviética. Acabam de ser divulgados
documentos que mostram as dificuldades que ele teve para lidar
com esse superávit primário.
A ekipekonômica e os çábios do
planejamento deveriam ler essa
papelada. Ela mostra como uma
burocracia resiste a qualquer
mudança, inclusive aquela que
pode salvar a vida dos burocratas.
Logo que soube do número, Nixon acionou a Primeira Lei do
Poder: quando o presidente quer
mudar o que já existe, manda
um assessor direto cuidar do assunto. E assim o caso foi para
Henry Kissinger, seu assessor para assuntos de segurança nacional. O doutor pediu aos burocratas que lhe mandassem estudos
para planejar a opção de um ataque gradual. Sonegaram-lhe o estudo da Força Aérea que admitia
essa possibilidade. Era a Segunda
Lei: a burocracia só guarda o que
lhe interessa.
Kissinger respondeu com a Terceira Lei: o que a máquina dos
ministérios não quer fazer, a gente faz no palácio. Atolou. O professor queria um plano para ser
usado, por exemplo, caso a frota
russa bombardeasse Israel. O
Pentágono opunha-se à idéia por
razões doutrinárias, mas valeu-se de duas outras Leis do Poder.
A Quarta: todo plano pronto é
indivisível. Um ataque planejado
para matar 80 milhões de pessoas
não podia ser dividido em oito
tranches de 10 milhões de mortos.
A Quinta: tudo que é novo demora. Um ataque light, com 20 foguetes, levaria mais de 24 horas
para ser acionado. Com 3.000 mil
mísseis, bastariam 20 minutos.
Um ano depois da ordem de
Nixon, a "estratégia do horror"
continuava invicta. Tratava-se
de baixar a conta de 80 milhões
de mortos para 50 milhões, mas a
revisão fora atingida pela Sexta
Lei: quanto custa? Com menos
alvos seriam necessárias novas
armas e mais verbas. Como o
ataque já estava planejado, rever
a estratégia significaria gastar
dinheiro.
Em janeiro de 1978, passados
nove anos do dia em que o presidente dos Estados Unidos se assustou com uma conta de 80 milhões de mortos, Jimmy Carter,
novo inquilino da Casa Branca
repetiu o pedido. Começou tudo
de novo, até que em 1989 a União
Soviética virou fumaça. Funcionara a Sétima Lei, também conhecida como Supremo Mandamento: nunca faça nada. As coisas importantes resolvem-se por
causa dos outros.
Serviço
Um estudo do pesquisador William Burr sobre essa discussão
estratégica está na página do National Security Archive, infelizmente em inglês (http://www.gwu.edu/~nsarchiv/).
Erros
O artigo publicado neste espaço
na semana passada tinha três erros. A avaliação do desempenho
dos estudantes da rede escolar
pública municipal de Sobral não
os deixa sempre abaixo da média
cearense. Sobral ficou abaixo em
matemática e acima em português. Nos dois casos, nos testes da
quarta série. A posição erradamente atribuída a Sobral referia-se à região que leva o nome da cidade, formada por 20 municípios. Os outros dois erros: O atual
prefeito não é da família Ferreira
Gomes. Ela deu cinco prefeitos à
cidade durante o período republicano e não seis no último século.
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