São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 1998

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Dornbusch critica de novo

Do enviado especial

Língua sempre afiada, Rudiger foi ontem ainda mais cortante na sua tréplica ao presidente Fernando Henrique:
"A equipe está completamente desacreditada, porque passou três anos dizendo que não havia problemas e agora joga o país na recessão", disparou o economista do MIT, ao saber do contra-ataque do presidente brasileiro.
Dornbusch estava ao lado do economista argentino Miguel Ángel Broda, consultor favorito de 10 entre 10 empresas e políticos de seu país. Aproveitou para cutucar ainda mais o governo brasileiro, apontando para Broda:
"Os pobres coitados na Argentina não dormem tentando adivinhar o que os loucos no Brasil vai fazer".
No ano passado, Dornbusch já havia se envolvido em forte polêmica com a equipe econômica, ao fazer a sua primeira crítica à sobrevalorização do real. Agora, aproveitou para uma pequena vingança:
"Eles também disseram que eu estava errado no passado. Por quê, então, tiveram que aumentar os juros para 40%?", perguntou.
É uma alusão ao fato de que a equipe econômica teve que duplicar os juros, em outubro, para evitar o sucesso de um ataque especulativo ao real, na esteira de dificuldades com a moeda de Hong Kong.
Por fim, ironizou: "Provocar uma recessão é uma maneira chocante de enfrentar o problema" (da sobrevalorização da moeda).
É uma alusão ao fato de que os juros elevados causam redução da atividade econômica, o que diminui a necessidade de exportações e compensa, ao menos parcialmente, o valor excessivo do real.
O outro economista criticado pelo presidente, Kenneth Courtis (Deutsche Bank), reagiu diplomaticamente: "Entendo a reação dele", disse.
Mas reafirmou integralmente a sua análise da véspera. "Se o Japão não relançar agressivamente a demanda doméstica, os países asiáticos não poderão exportar para ele mas exportarão para outros países a preços tão baixos que porão sob tremenda pressão os países da América Latina e da Europa Oriental", afirmou.

Citibank
Mesmo um economista que está entre os otimistas, o vice-presidente do Citibank, Bill Rhodes, cobra "a necessidade de continuar reduzindo os déficits fiscal e em conta corrente".
Rhodes falou por telefone com FHC no mês passado e ouviu a garantia de que o presidente "tomaria as medidas necessárias para lidar com ambos os déficits".
O representante do Citibank diz que o pacote fiscal de novembro é um exemplo dessa disposição. "Imagino que, se passos adicionais forem necessários, serão tomados", afirmou.
Rhodes aposta também na hipótese de que o acordo da Coréia com os bancos credores, para alongar sua dívida, "poderá trazer certa estabilidade aos mercados".
Mais ainda: "Se a Coréia puder voltar aos mercados internacionais, seguida pela Tailândia, isso retirará alguma pressão sobre as economias da América Latina".
(CLÓVIS ROSSI)



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