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Ex-guerrilheira revive pavor ao ser detida após a anistia
Nome de Vania Abrantes constava de base de dados desatualizada que lista criminosos
AMARÍLIS LAGE
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO
O que era para ser um simples
registro de ocorrência por perda
de cheques se transformou em
momentos de pavor para a ex-presa política Vania Abrantes, 62.
Por 21 horas, entre 14 e 15 de dezembro passado, ela ficou detida
na 12ª Delegacia de Polícia, em
Copacabana (zona sul do Rio),
sem que nem ela nem os policiais
soubessem o motivo da prisão.
Na quarta passada, Abrantes,
hoje aposentada, entrou com
ação contra a União e os governos
do Rio e de São Paulo pedindo indenização por danos morais.
O problema foi causado pela desatualização do Infoseg (Programa de Integração Nacional das
Informações da Justiça e Segurança Pública) -criado em 1995 para reunir informações estaduais
sobre criminosos. Ao ser montado, utilizou arquivos de órgãos da
repressão durante o regime militar (1964-1985) que incluíam nomes de ex-presos políticos já anistiados -como Vania Abrantes.
Esse erro já havia sido apontado
pela Folha em 2000.
"Foi horrível. Eu ficava lembrando da prisão, de todas as torturas que sofri, com medo de que
tudo aquilo voltasse", disse
Abrantes, presa em maio de 1970
por integrar a VAR (Vanguarda
Armada Revolucionária) Palmares, organização da qual fazia parte Carlos Lamarca (1937-1971).
Abrantes foi libertada em agosto de 71. Nesse ínterim, passou 89
dias no DOI-Codi (repartição que
atuava na repressão). A ex-presa
voltou a freqüentar o grupo Tortura Nunca Mais em busca de
apoio psicológico.
Na ação, Abrantes acusa o governo de São Paulo de incluir seu
nome no Infoseg; o do Rio, por tê-la prendido sem causa; e o governo federal, por manter um banco
de dados desatualizado.
A assessoria do Ministério da
Justiça informou que a gerência
do Infoseg é de responsabilidade
dos Estados. A Secretaria da Segurança de São Paulo disse que o sistema adotado pela Justiça não
permitiu atualização. A Segurança do Rio afirmou que o delegado
agiu corretamente, já que o nome
de Abrantes constava do Infoseg.
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