São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2004

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Ex-guerrilheira revive pavor ao ser detida após a anistia

Nome de Vania Abrantes constava de base de dados desatualizada que lista criminosos

AMARÍLIS LAGE
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O que era para ser um simples registro de ocorrência por perda de cheques se transformou em momentos de pavor para a ex-presa política Vania Abrantes, 62. Por 21 horas, entre 14 e 15 de dezembro passado, ela ficou detida na 12ª Delegacia de Polícia, em Copacabana (zona sul do Rio), sem que nem ela nem os policiais soubessem o motivo da prisão.
Na quarta passada, Abrantes, hoje aposentada, entrou com ação contra a União e os governos do Rio e de São Paulo pedindo indenização por danos morais.
O problema foi causado pela desatualização do Infoseg (Programa de Integração Nacional das Informações da Justiça e Segurança Pública) -criado em 1995 para reunir informações estaduais sobre criminosos. Ao ser montado, utilizou arquivos de órgãos da repressão durante o regime militar (1964-1985) que incluíam nomes de ex-presos políticos já anistiados -como Vania Abrantes. Esse erro já havia sido apontado pela Folha em 2000.
"Foi horrível. Eu ficava lembrando da prisão, de todas as torturas que sofri, com medo de que tudo aquilo voltasse", disse Abrantes, presa em maio de 1970 por integrar a VAR (Vanguarda Armada Revolucionária) Palmares, organização da qual fazia parte Carlos Lamarca (1937-1971).
Abrantes foi libertada em agosto de 71. Nesse ínterim, passou 89 dias no DOI-Codi (repartição que atuava na repressão). A ex-presa voltou a freqüentar o grupo Tortura Nunca Mais em busca de apoio psicológico.
Na ação, Abrantes acusa o governo de São Paulo de incluir seu nome no Infoseg; o do Rio, por tê-la prendido sem causa; e o governo federal, por manter um banco de dados desatualizado.
A assessoria do Ministério da Justiça informou que a gerência do Infoseg é de responsabilidade dos Estados. A Secretaria da Segurança de São Paulo disse que o sistema adotado pela Justiça não permitiu atualização. A Segurança do Rio afirmou que o delegado agiu corretamente, já que o nome de Abrantes constava do Infoseg.


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