São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS CASSAÇÕES

Relatório que pedia absolvição foi rejeitado na semana passada e novo parecer foi votado contra deputado que recebeu R$ 120 mil do "valerioduto"

Conselho aprova pedido de cassação de Mentor

Alan Marques - 2.fev.2006/Folha Imagem
José Mentor, cujo parecer deve ser votado no dia 12 ou 19 de abril


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado federal José Mentor (PT-SP) teve sua cassação pedida pelo Conselho de Ética da Câmara, com a aprovação de um contra-relatório elaborado a toque de caixa depois que o parecer inicial, pró-absolvição, foi derrubado.
O primeiro relatório foi rejeitado na semana passada por margem estreita, com 8 votos contrários e 6 favoráveis. Ontem, foram 9 votos pela cassação e 4 contra. Lino Rossi (PP-MT), um dos que haviam votado contra a perda de mandato, não compareceu; o outro, Benedito de Lira (AL), mudou para o lado pró-cassação, argumentando que ontem estava sendo votada apenas a redação final de um assunto já decidido.
O próximo e último passo é a votação do parecer em plenário. Se Mentor não tentar alguma manobra regimental, ela ocorrerá em 12 ou 19 de abril. O petista fez mistério ontem, recusando-se a descartar qualquer possibilidade. O caminho seria um recurso à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o que atrasaria o desfecho em mais um mês.
Segundo avaliação de vários parlamentares, a indignação gerada com a dança da deputada Angela Guadagnin (PT-SP) em plenário, na semana passada, criou um clima pesado para deputados ameaçados de cassação. Muitos acham que podem acabar sacrificados para satisfazer o eleitorado.

A acusação
Ex-relator da CPI do Banestado, Mentor recebeu R$ 120 mil em duas parcelas iguais de Rogério Tolentino, um dos sócios de Marcos Valério. Em sua defesa, Mentor disse que o dinheiro não segue o padrão dos repasses que utilizaram no esquema de Valério. O recurso seria referente a serviços de consultoria jurídica prestados por seu escritório de advocacia para Tolentino. Mas a versão não convenceu muitos integrantes do conselho, que chegaram a desdenhar da qualidade dos serviços.
"São estudos genéricos, mais parecidos com trabalhos escolares do que com algo que vá servir a alguém, aparentemente sem utilidade prática", disse o responsável pelo relatório aprovado ontem, Nelson Trad (PMDB-MS).
Os deputados que defenderam a cassação apontam um conflito de interesses. Mentor, na época em que relatava a CPI do Banestado e investigava o Banco Rural -onde se instalou o "valerioduto"-, tinha Tolentino como cliente.
Apesar do pedido de cassação pelo conselho, a confirmação pelo plenário está longe de ser uma certeza. Mentor desgastou-se muito durante a CPI, principalmente com o PSDB, mas muitos consideram que não se conseguiu desmontar o álibi apresentado para os recursos que recebeu.
O próprio Trad na semana passada confessava ter dúvidas sobre a culpa do petista. Mas ontem apresentou um parecer forte, o que motivou uma provocação do relator do primeiro relatório, Edmar Moreira (PFL-MG).
"Eu me pergunto, nesse lapso de tempo, o que o levou a mudar radicalmente, da posição de dúvida para uma de tranqüilidade", disse. Além dele, votaram contra o relatório Neyde Aparecida (PT-GO), Josias Quintal (PSB-RJ) e Ann Pontes (PMDB-PA).
Favoráveis ao relatório de cassação ficaram Trad, Lira, Jairo Carneiro (PFL-BA), Moroni Torgan (PFL-CE), Chico Alencar (PSOL-RJ), Orlando Fantazzini (PSOL-SP), Carlos Sampaio (PSDB-SP), Mendes Thame (PSDB-SP) e Julio Delgado (PSB-MG).


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