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JANIO DE FREITAS
Um prato especial
A cobertura a Renan Calheiros contribui muito mais para a desmoralização do Senado do que Renan Calheiros
O VERDADEIRO sentido da reunião-almoço de nove das
principais figuras do Senado,
representados o governismo e a alegada oposição, para combinar a conduta de suas bancadas em relação ao
caso Renan Calheiros, foi dar a um
problema individual dimensões institucionais muito graves e ampliá-lo
até comprometer o próprio Senado.
Os nove presentes sabem que as
explicações de Renan Calheiros foram insatisfatórias, mesmo que limitadas a um só aspecto do seu problema; sabem que há outros aspectos carentes de elucidação; e sabem
que a presidência do Senado é incompatível com interrogações éticas irrespondidas ou irrespondíveis.
Nenhum deles tem dúvida verdadeira, porque não há como tê-la, de que
o mínimo a ser cobrado de um presidente do Senado em tal situação é licenciar-se do cargo.
Os nove senadores decidiram, e
logo difundiram no Senado como
atitude a ser seguida por seus colegas de partido, dar a Renan Calheiros a cobertura formalizada em dispensa do pedido de licença, em ausência de cobrança das explicações
omitidas e no arranjo para amoldar
o Conselho de Ética do Senado,
composto às pressas, aos arranjos
casuísticos deste momento.
A cobertura a Renan Calheiros
contribui muito mais para a desmoralização do Senado do que Renan
Calheiros, apesar de toda a insuficiência de suas explicações. A cobertura a Renan Calheiros é um desrespeito à presidência do Senado, que é,
também, a presidência do Congresso e nada menos do que a presidência do Poder Legislativo.
Os nove comensais de anteontem,
quando a presidência do Poder Legislativo foi servida na mesa doméstica do senador Tasso Jereissati, foram: pelo PSDB, o dono da casa, Arthur Virgílio e Sergio Guerra; pelo
PT, Aloizio Mercadante e Tião Viana; pelo DEM, cujo nome encobre o
PFL, Antonio Carlos Magalhães e
José Agripino; Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos, pelo PMDB.
Do senador Pedro Simon sabe-se
que defendeu, de público, a licença
de Renan Calheiros e criticou o uso
da cadeira de presidente, em lugar
da tribuna, para a pretensa defesa. O
que fez e disse na mesa de Tasso Jereissati é incerto.
Dos demais, sabe-se que lá estavam alguns dos velozes cobradores
do pedido de licença e demissão do
ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau tão logo foi dado como
recebedor de R$ 100 mil entregues
em seu gabinete por portadora da
Gautama. Fato não provado à época
e ainda não, o que o diferencia substancial e moralmente do caso Renan
Calheiros. Assim como do caso produzido pelos senadores que substituem os seus deveres institucionais
por uma cupinchice, que não é melhor do que isso, tão indigna e tão
suspeita quanto as suspeitas que
procura encobrir.
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