São Paulo, quinta-feira, 31 de maio de 2007

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JANIO DE FREITAS

Um prato especial

A cobertura a Renan Calheiros contribui muito mais para a desmoralização do Senado do que Renan Calheiros

O VERDADEIRO sentido da reunião-almoço de nove das principais figuras do Senado, representados o governismo e a alegada oposição, para combinar a conduta de suas bancadas em relação ao caso Renan Calheiros, foi dar a um problema individual dimensões institucionais muito graves e ampliá-lo até comprometer o próprio Senado.
Os nove presentes sabem que as explicações de Renan Calheiros foram insatisfatórias, mesmo que limitadas a um só aspecto do seu problema; sabem que há outros aspectos carentes de elucidação; e sabem que a presidência do Senado é incompatível com interrogações éticas irrespondidas ou irrespondíveis. Nenhum deles tem dúvida verdadeira, porque não há como tê-la, de que o mínimo a ser cobrado de um presidente do Senado em tal situação é licenciar-se do cargo.
Os nove senadores decidiram, e logo difundiram no Senado como atitude a ser seguida por seus colegas de partido, dar a Renan Calheiros a cobertura formalizada em dispensa do pedido de licença, em ausência de cobrança das explicações omitidas e no arranjo para amoldar o Conselho de Ética do Senado, composto às pressas, aos arranjos casuísticos deste momento.
A cobertura a Renan Calheiros contribui muito mais para a desmoralização do Senado do que Renan Calheiros, apesar de toda a insuficiência de suas explicações. A cobertura a Renan Calheiros é um desrespeito à presidência do Senado, que é, também, a presidência do Congresso e nada menos do que a presidência do Poder Legislativo.
Os nove comensais de anteontem, quando a presidência do Poder Legislativo foi servida na mesa doméstica do senador Tasso Jereissati, foram: pelo PSDB, o dono da casa, Arthur Virgílio e Sergio Guerra; pelo PT, Aloizio Mercadante e Tião Viana; pelo DEM, cujo nome encobre o PFL, Antonio Carlos Magalhães e José Agripino; Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos, pelo PMDB.
Do senador Pedro Simon sabe-se que defendeu, de público, a licença de Renan Calheiros e criticou o uso da cadeira de presidente, em lugar da tribuna, para a pretensa defesa. O que fez e disse na mesa de Tasso Jereissati é incerto.
Dos demais, sabe-se que lá estavam alguns dos velozes cobradores do pedido de licença e demissão do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau tão logo foi dado como recebedor de R$ 100 mil entregues em seu gabinete por portadora da Gautama. Fato não provado à época e ainda não, o que o diferencia substancial e moralmente do caso Renan Calheiros. Assim como do caso produzido pelos senadores que substituem os seus deveres institucionais por uma cupinchice, que não é melhor do que isso, tão indigna e tão suspeita quanto as suspeitas que procura encobrir.


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