São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NA MIRA

Presidente do banco é dono de conta nos EUA e não teria declarado isso à Receita

Pressionado por denúncias, Casseb já ameaça deixar BB

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, é dono de uma conta no banco Northern International, nos EUA, por meio da qual movimentou US$ 593.855 entre 1999 e 2002. Segundo reportagem da revista "IstoÉ", nem a conta nem os recursos foram declarados à Receita Federal. Casseb nega e diz ter informado tudo.
Mas, alvo de seguidas denúncias, ele já começa a demonstrar seu desconforto. A interlocutores, tem cogitado até a hipótese de entregar o cargo. Segundo a Folha apurou, ele diz não ter estômago para o que tem passado e acha que, por situações como essa, cada vez menos "gente séria" quer trabalhar em governos. "Não fui picado pela mosca azul. Se ficarem me irritando, saio", teria dito.
Com a carreira construída na iniciativa privada, Casseb tem se queixado da exposição, segundo ele, produto de "denuncismo". E, mais uma vez, ele terá a vida devassada, com a publicação das operações que constam da contabilidade do banco norte-americano MTB, investigado pelo Ministério Público de Nova York por suspeita de prática de lavagem de dinheiro. O MTB, hoje CBC, concentrava contas de doleiros latino-americanos e também foi o caminho das transações de Casseb.
Há três meses, banco de dados com 700 mil operações do MTB foi encaminhado ao Ministério da Justiça, ao Ministério Público Federal e à CPI do Banestado, que investiga a evasão de divisas. Há registro de nove transações relacionadas a Casseb. Todas intermediadas por contas de offshores (empresa com ações ao portador e sem identificação pública de seus donos) e doleiros no CBC.
A mesma base de dados revela que o caminho percorrido pelo dinheiro atribuído a Casseb é semelhante ao percurso registrado no CBC em nome do ex-diretor de Política Monetária do Banco Central Luiz Augusto Candiota.
As denúncias de movimentações não-declaradas levaram Candiota a deixar o cargo anteontem. Antes de entrar no governo, ambos trabalhavam no Citibank -nos anos 90, Casseb era diretor-executivo de tesouraria e Candiota, seu adjunto.
No dia 4 agosto de 1999, em sua primeira operação, Casseb recebe, em sua conta no Northern, US$ 160 mil oriundos da Kundo no CBC. Kundo S.A. é uma offshore com sede nas Ilhas Virgens.
Quatro meses depois, Candiota, por meio da mesma conta Kundo no CBC, recebeu US$ 100 mil, também depositados em uma conta do Northern International.
Em cinco operações, Casseb recebe dinheiro por meio de contas de empresas offshores. Além da Kundo, a Orange, também com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, intermediou US$ 348.855.
Entre 2001 e 2002, o dinheiro de Casseb faz o caminho inverso. De sua conta no Northern, saem US$ 85 mil, em quatro operações diferentes, todas destinadas à conta registrada no CBC em nome da Biscay Trading Ltd. Segundo dados da CPI, a empresa é de três doleiros que atuam em São Paulo.
No ano passado, ao se tornar pública a informação de que Casseb e Candiota haviam feito remessas ao exterior, eles alegaram ter declarado o fato à Receita Federal. Ontem, Casseb informou ter enviado as declarações ao presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) e ao relator José Mentor (PT-SP).
Mentor disse que somente no relatório da CPI iria apresentar sua análise final sobre as informações encaminhadas por Casseb. "A relatoria não pinça casos, trabalha com critérios de investigação. Não estamos investigando diretores do BC."
Barros negou ter recebido qualquer explicação de Casseb. "Ele nunca me explicou nada. Tenho me negado a assinar cartinhas nas quais o relator pede explicações reservadas. Essas explicações têm de ser dadas publicamente à CPI".


Colaborou a da Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Outro lado: Presidente do BB diz ter enviado declarações à CPI e a ministros
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.