São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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"Vamos evitar um novo Candiota" é o slogan de Palocci para o governo

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) comandou uma operação ostensiva para manter nos respectivos cargos os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do Banco do Brasil, Cássio Casseb. Mais do que lealdade a ambos, a preocupação é evitar uma crise política.
Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chefe da Casa Civil, José Dirceu, viajando, Palocci assumiu o controle de uma ação que atravessou gabinetes da República com o mesmo slogan: "Evitar um novo Candiota".
O slogan refere-se a Luiz Augusto Candiota, que pediu demissão da Diretoria de Política Monetária do BC depois de denúncias de sonegação fiscal e de evasão de divisas. A cúpula do governo tentou impedir sua saída, mas Candiota disse que não ficaria no governo para perder dinheiro (os salários da iniciativa privada são muito maiores) e ainda por cima suportar "ataques à honra pessoal".
Derrotado na investida de manter Candiota, Palocci foi à luta com o dobro da intensidade junto a Meirelles e a Casseb -cuja nomeação ele próprio "apadrinhou". Ambos estão expostos a denúncias semelhantes às que recaíram sobre Candiota.
Na quinta-feira, ao saber que a revista "IstoÉ" traria informações sobre contas de Casseb no exterior que não teriam sido declaradas à Receita, Palocci ligou para o presidente do BB, pedindo "calma".
Palocci sugeriu que Casseb continuasse no cargo e desse publicamente todas as informações sobre as contas. Ele reagiu dizendo que não poderia se defender sem saber quais eram as denúncias. Na versão do governo, a revista só tentou ouvir o BB à noite.
No longo telefonema, o ministro da Fazenda ouviu um desabafo de Casseb, que vem convivendo com outras acusações contra ele e contra o BB neste mês, justamente quando tirou duas semanas de férias longe de Brasília.
Primeiro, o banco foi flagrado comprando R$ 70 mil em ingressos de um show da dupla Zezé de Camargo e Luciano, cuja renda seria revertida para a compra da nova sede do PT. Depois, a Folha revelou que a empresa Kroll espionara integrantes do governo e havia descoberto um encontro dele com seus ex-companheiros da Italia Telecom em Portugal.
A questão das contas não-declaradas no exterior é tratada com "constrangimento" no Planalto e na Fazenda, mas não como um "escândalo".Quanto ao envolvimento do Banco do Brasil num show pró-PT, a versão é de que foi um erro grosseiro, mas não culpa de Casseb. O comando abaixo dele no banco é considerado "todo petista", mas as escolhas não foram dele, "vieram de cima".


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