São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA

Henrique Ollitta, do diretório da Vila Maria, nega relação com provocação a Serra e se diz constrangido com contratações de cabos eleitorais

"Exército pago horroriza", diz dirigente do PT

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Henrique Ollitta, 44, é o presidente do diretório zonal do Partido dos Trabalhadores da Vila Maria (zona norte). Com uma longa folha corrida de serviços prestados ao PT, ele foi administrador regional da Vila Maria, na gestão de Luiza Erundina (1989-92).
Trotsquista da corrente "O Trabalho", também foi o responsável, no bairro, pela organização de todas as campanhas eleitorais de que o PT participou desde sua fundação. Foi. Pois, na atual campanha de Marta Suplicy, Ollitta e vários dirigentes tradicionais viram-se substituídos pelo trator eleitoral comandado pelo marqueteiro Duda Mendonça.
Indício dos novos tempos, pela primeira vez, Ollitta foi surpreendido por uma atividade do PT no seu próprio reduto. Aconteceu anteontem, quando cabos eleitorais de Marta, contratados pelo Comitê de Campanha da Vila Maria, hostilizaram o candidato do PSDB, José Serra, durante visita ao bairro. "O diretório zonal não teve participação no episódio. E não temos responsabilidade pela contratação desses cabos eleitorais", disse Ollitta à Folha. Abaixo, trechos da entrevista:
 

Folha - Qual a sua visão sobre a condução da campanha de Marta?
Henrique Ollitta
- O diretório da Vila Maria é contrário aos comitês Regionais, por entender que esses comitês não expressam a história e a tradição de organização da base do partido. Esses comitês só expressam a coligação eleitoral do PT com o PTB, PL, PRTB, partidos que não nunca atenderão as reivindicações dos trabalhadores.

Folha - Na Vila Maria, uma mulher disse receber R$ 800 para fazer a campanha de Marta. Isso é inédito na história do partido, não é?
Ollitta
- Sim, é verdade. Nós estranhamos esse tipo de organização no período eleitoral. É uma afronta à história do PT.

Folha - Por que contratar cabos eleitorais?
Ollitta
- Acho que se trata de um reflexo dessa coligação. Os partidos coligados sempre usaram esse expediente espúrio para fazer campanha eleitoral. Agora, é o próprio PT que se está colocando nesse patamar.

Folha - A militância do PT não quer fazer campanha para Marta?
Ollitta
- A militância do PT está horrorizada com essa situação. Há um constrangimento generalizado na minha região entre os filiados petistas. Os petistas, que sempre desenvolveram a sua política como atividade voluntária, por acreditar no programa do partido, consideram que esse tipo de expediente é inadequado.

Folha - Por que os cabos eleitorais de Marta provocaram o candidato José Serra?
Ollitta
- Eu não tenho conhecimento. O diretório zonal e seus militantes não tiveram nenhuma participação no episódio. E não temos responsabilidade pela contratação desses cabos eleitorais.

Folha - Você confirma que há cabos eleitorais contratados?
Ollitta
- Eu tenho conhecimento de que sim.

Folha - Como será feita, na prática, a campanha do PT?
Ollitta
- Em uma reunião do diretório municipal do partido, realizada há dois meses, ficou decidido que os comitês regionais devem promover a visita a centenas de milhares de casas, para conversar com os moradores.

Folha - Quem visitará as casas?
Ollitta
- Para mim é óbvio que seria esse exército de gente contratada para fazer a campanha.


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