São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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ALTA ESPIONAGEM

Negociações em 2000 entre a família Marinho e a Telecom Italia estariam sendo espionadas, diz relatório da empresa

Espiões da Kroll também investigaram a Rede Globo

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

MARCIO AITH
EDITOR DE DINHEIRO

Além de integrantes do governo federal e do Judiciário, as Organizações Globo também foram espionadas por agentes da Kroll, a mando da companhia telefônica Brasil Telecom. Negociações realizadas em 2000, entre a família Marinho e a Telecom Italia, estariam sendo investigadas no Brasil e no exterior, segundo informa o relatório da agência Kroll que está em poder da Polícia Federal.
A família Marinho virou alvo da espionagem em razão da venda de 30% do capital da Globo.com (portal de internet da Globo) para a Telecom Italia, em junho de 2000. Segundo os investigadores, o preço de venda das ações -US$ 810 milhões- teria sido excessivamente alto porque contemplaria uma opção do grupo italiano de se tornar acionista da Net Serviços (ex-Globo Cabo), braço das Organizações Globo no mercado de TV a cabo, quando a legislação brasileira permitisse.
A Kroll diz ter rastreado o dinheiro que a Telecom Italia pagou à Globo na ocasião e conclui que parte dele, US$ 300 milhões, teria ficado em contas no exterior e que só US$ 410 milhões teriam entrado oficialmente no país.
Parte dos recursos teria sido usada pela família Marinho para reduzir a dívida da Globopar (Globo Participações). O serviço de espionagem identificou até o que seria o número da conta da Globo, na agência do banco Chase, em São Paulo, na qual teria sido realizado o pagamento.

Rumos da investigação
A Kroll, segundo o relatório em poder da PF, tem quatro linhas de investigação em curso sobre o relacionamento Globo/Telecom Italia. As duas primeiras vasculham a hipótese, não sustentada em documentos, de que os italianos teriam participação acionária oculta na Net Serviços.
Segundo o relatório, em 1999, houve conversão de debêntures em ações preferenciais da empresa, no valor de US$ 200 milhões, que poderiam ter sido adquiridas por subsidiárias da Telecom Italia no mercado secundário de títulos.
A segunda investigação se baseia na hipótese de a Telecom Italia ter assumido opções de compra de ações ordinárias e preferenciais da Net Serviços, dadas originalmente à Microsoft.
A terceira apuração envolve os grupos Globo, RBS (grupo de comunicação Rede Brasil Sul, da família Sirotsky) e o Chase Manhattan Bank (atual J. P. Morgan Chase) em uma teia de suspeições.
Ela analisa a compra da Net Sul (grupo regional de TVs a cabo) pela Net Serviços, que foi efetivada também no ano 2000.
A quarta investigação da Kroll visa descobrir se houve irregularidades nos negócios de telefonia celular feitos conjuntamente pela TIM, Globo e grupo Vicunha, que foram parceiros da Telecom Italia na compra das concessões da Banda B de telefonia celular nos Estados de Minas Gerais, Bahia e Sergipe, em 1997.
O relatório sugere que o Chase Manhattan Bank (atual J. P. Morgan Chase) esteve por trás das operações investigadas. Diz que o banco assessorou a Globopar e a Telecom Italia e era um dos maiores credores da RBS por ocasião da venda da Net Sul à Globo Cabo.


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