São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A MUSA

Secretária diz querer posar nua e que denunciou Valério por "país mais justo"

Karina faz ensaio e diz não ser bonita

PAULO SAMPAIO
DA REVISTA

Pode ser até que Fernanda Karina Somaggio jamais venha a ser capa da "Playboy", mas que ela gosta de fazer uma pose, isso gosta. "Muitas oportunidades estão surgindo, tenho de aproveitar todas", acredita a secretária, no auge de sua recente carreira de celebridade. Além do convite para posar nua, que a revista nega te feito, Karina diz ter sido procurada por quatro partidos políticos interessados em lançar sua candidatura à deputada federal nas eleições do próximo ano.
Aos 32 anos, uma borboleta tatuada na lombar, seu capital político se compõe basicamente de medidas promissoras (1,77 m, 55 kg) e uma agenda comprometedora -principalmente para o publicitário Marcos Valério de Souza, seu ex-patrão, apontado como o operador do "mensalão".
Em um depoimento bomba, ela revelou encontros do ex-chefe com figurões da República, envolveu ex-colegas e confirmou a operação leva-e-traz de malas de dinheiro. Valério afirma que, antes de fazer as denúncias na imprensa, Karina tentou chantageá-lo, tanto que abriu um processo de extorsão contra ela. A secretária se defende dizendo que entregou todo mundo por patriotismo: "Quero um país mais justo", diz.
O cachê de R$ 2 milhões, que, segundo o advogado, ela pediria pelo trabalho de "nu artístico", também faz parte dessa busca por um "país mais justo": o dinheiro será usado para despesas de campanha, diz ela. Mas não só, claro.
"Acho uma bobagem essas mulheres que dizem que não tirariam a roupa por dinheiro nenhum. Eu sou dura, tenho de comprar uma casa, um carro melhor."

Garota nacional
Karina recebe o repórter na casa de madeira pré-fabricada que aluga por R$ 600 na Pampulha, bairro de classe média de Belo Horizonte, onde mora com o marido, Vítor, 35, e a filha Naína, 8. Tem um Ford Ka 1998 que acabou de quitar e dois cachorros, um rotweiller e um boxer.
De fala mansa e afetuosa, ela abraça o repórter no portão e o conduz para a cozinha, separada da sala com poucos móveis e chão de ardósia por um balcão: oferece café, enquanto mistura leite com flocos de aveia em uma xícara. Seus cabelos tingidos de ruivo estão molhados, ela veste um conjunto verde-musgo de calça e camisão de seda e pantufas.
"Meu negócio é mato, pé no chão, fazenda. Não tenho tino artístico, não me acho bonita", diz.
Ela diz que os convites de partidos políticos e os da revista quem discute é seu advogado, Rui Pimenta. "Sou péssima para tratar de dinheiro", diz. Mas não para gastar, segundo suas próprias palavras: "Se quebrarem meu sigilo bancário, só vão descobrir que entrei no cheque especial. Meu limite no cartão de crédito é R$ 600, porque senão gasto mesmo".
Ao falar da frota particular de automóveis de luxo do ex-chefe ("que só veste Hugo Boss e frequenta a Daslu"), Karina também não vacila na identificação: "Tem Pajero, Land Rover, tudo novinho", diz. Uma intimidade inesperada com carrões, para uma pessoa que diz gastar dinheiro com animais que encontra na rua. "Amo bichos. Já peguei muito vira-lata doente para cuidar."
Na verdade, Karina está sendo modesta ao definir-se com tanta simplicidade. Versátil, ela rapidamente se transforma quando entra no fundo infinito do estúdio, para a sessão de fotos. Pelo repertório de olhares fatais e viradas de pescoço, conclui-se que ou a secretária folheou muito editorial de moda, ou perdeu tempo correndo descalça pelo campo: "Estou achando ótimo me ver assim", diz, com uma espécie de euforia contida, ao ver o resultado.


Texto Anterior: "Mensalão": Atores da crise saem de cena após denúncias
Próximo Texto: Escândalo do "mensalão" CPI descobre cheques em série com o mesmo valor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.