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INVESTIGAÇÃO
Testemunha afirma ter emitido R$ 8 mi em notas fiscais frias
Cheque liga propina de obra a esquema de precatórios
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cheques emitidos pela empresa
Costaço Comércio de Ferro e Aço
Ltda. revelam ligação do esquema
de pagamentos de propina na
construção da avenida Água Espraiada, contratada pela Prefeitura de São Paulo na gestão Paulo
Maluf (1993-96), com as negociações irregulares de títulos públicos para pagamento de precatórios (dívidas judiciais).
O Ministério Público, que investiga a construção da avenida há
mais de um ano, suspeita que, dos
R$ 800 milhões gastos na obra,
cerca de R$ 550 milhões tenham
sido desviados.
A obra foi feita por um consórcio formado pelas empreiteiras
Mendes Júnior, que detinha 55%
do contrato, e OAS, com os outros
45%. Em 13 de maio, a Folha informou que a OAS mandou US$
6,8 milhões para Jersey, um paraíso fiscal no canal da Mancha, na
época em que recebeu pagamentos da Prefeitura de São Paulo.
Na edição de 10 de junho de
2001, a Folha revelou que as autoridades de Jersey haviam bloqueado pelo menos US$ 200 milhões pertencentes ao ex-prefeito
e a familiares dele. Segundo o governo da Suíça, Maluf mantinha
contas em Genebra em nome de
duas empresas "offshore" de Cayman e as transferiu para Jersey.
Em relação à Mendes Júnior, o
Ministério Público investiga um
outro esquema. De acordo com a
Promotoria de Justiça da Cidadania, a empresa teria feito pagamentos indevidos a fornecedores,
que devolveriam 90% do dinheiro
recebido. Esses cheques seriam
destinados ao pagamento de propina a pessoas que ocupavam altos cargos na prefeitura na época
da construção da avenida.
Em 20 de maio, Simeão Damasceno de Oliveira, ex-funcionário
da Mendes Júnior, declarou que
parte do dinheiro obtido com o
superfaturamento na construção
da avenida Água Espraiada foi
destinada a Maluf.
Depoimento
O Ministério Público divulgou
ontem a íntegra do depoimento
prestado aos promotores Silvio
Antonio Marques e José Carlos
Blat por Ricardo Augusto da Costa, que foi dono da Costaço.
A testemunha disse que sua empresa não produz materiais para a
construção civil, mas que ela emitiu cerca de R$ 8 milhões "em notas fiscais frias" para a Mendes Júnior durante um ano e meio.
Segundo Costa, do dinheiro que
era pago pela Mendes Júnior à
Costaço, 90% eram devolvidos
para a empreiteira e 4% ficavam
para o próprio Costa. Os outros
6% eram divididos igualmente
entre dois intermediários.
Costa divulgou cópia dos cheques emitidos pela Costaço para a
devolução do dinheiro à Mendes
Júnior -que seriam usados para
pagar propina a políticos.
Pelo menos quatro beneficiários dos cheques são citados pelo
relatório final da CPI dos Precatórios, que apurou negociações irregulares de títulos públicos para o
pagamento de precatórios. São
eles: Split Distribuidora de Títulos
e Valores Mobiliários, Gold Factoring Ltda., Rodolfo Castro Filho
e Felipe Monteiro Marcondes.
Agora, os promotores buscam
dados que comprovem a hipótese
de que o dinheiro teria sido mandado ao exterior por meio de contas CC5 (de não-residentes).
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