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FOLCLORE POLÍTICO
Malogro revolucionário no Pará
JARBAS PASSARINHO
Indicado pelo marechal Castello Branco, o governador recebeu abundantes denúncias de
corrupção na administração anterior. Ele as havia encaminhado
à Comissão de Investigação Sumária, presidida por um jurista,
que passou a ouvir os denunciados. Como o governador só tivesse
assumido em junho, e o presidente Castello houvesse limitado a vigência das medidas de exceção, a
comissão tinha que trabalhar velozmente para concluir seu trabalho e submetê-lo ao governador.
Independente da autoridade
que lhe dava o Ato Institucional,
o governador em pessoa começou
a visitar o interior do Estado, dadas as informações que recebia de
vasta rede de corrupção dos coletores nomeados segundo indicações políticas, que não autuavam
sonegadores do Partido Democrático Social, que fora apeado do
poder. Inesperadamente voou para a ilha do Marajó, pousou na cidade de Muaná. Ouvindo testemunhas teve a confirmação de
que o coletor fraudava notas fiscais favorecendo um comerciante
que chefiava o Partido Social Democrático local (PSD) , que o havia indicado ao governador deposto. Demitiu-o. Em seguida, visitou o chefe pessedista na sua
olaria beneficiada pelo coletor.
Era conhecido pelo apelido de
"Mãozinha", porque perdera a
mão direita em acidente.
Bem-humorado, perguntou-lhe
se era o chefe do PSI. A resposta,
altiva, foi que seu partido era o
PSD, ao que o governador retrucou: "Não. Seu partido é o PSI".
"Que é isso, governador?", perguntou intrigado o comerciante.
E insistiu: "Sou chefe do PSD".
"Não", respondeu o governa
dor. "O seu é o PSI, o Partido da
Sonegação do Imposto", disse,
provocando risos.
O comerciante, que já fora prefeito do município e que já fora
rapidamente informado sobre as
pessoas que o haviam delatado,
perdera o medo do governador
revolucionário. Só tivera oportunidade de ver suas fotografias na
imprensa da capital. Indignado
com os delatores, abriu um riso
nervoso, defendeu-se dizendo
que os delatores sim que eram ladrões quando a UDN mandava
no município e que não tinham
autoridade moral para acusá-lo.
E saiu-se com esta quadra:
"O meu defeito físico,
É um benefício pra Nação,
Os outros roubam com as duas,
E eu roubo com uma só mão"
JARBAS PASSARINHO, 82, governador
do Pará (1964 a 1966), ministro do Trabalho no governo de Costa e Silva e da
Justiça no governo de Fernando Collor,
escreve aos sábados nesta seção
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