São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CORUJAS

Thereza Chirico Talan, 84, Rosa Petito, 78, e Carmela Chirico, 72, rezam pelo candidato

Para tias, Serra é "atraente, carinhoso e crânio"

DA REPORTAGEM LOCAL

Para Carmela Chirico, o candidato do PSDB à Prefeitura, José Serra, é "um homem muito atraente", mesmo com a perda dos cabelos ainda muito jovem. Pudera. Aos 72 anos, Carmelita é "tia coruja" do tucano.
Carmelita e as irmãs Thereza Chirico Talan, 84, e Rosa Petito, 78, divergem muito. Dos detalhes da vida de Serra à idade da primogênita Serafina, 88, mãe do candidato. Mas concordam nos elogios ao sobrinho: um "crânio" e "inteligentíssimo".
Na memória, guardam um Zezinho bem diferente do homem público; "Hoje, eu não sei. Mas ele dançava de tudo: tango, samba e até Tarantela", lembra Thereza, que exibe fotos atuais de Serra à porta da geladeira. As de criança foram sumindo por conta das campanhas eleitorais.
Descrevendo um sobrinho "dado e carinhoso", dispara: "Pelo que sei, ele só teve duas namoradas. Com uma, ele casou".
Numa casa na Mooca, as tias descrevem um adolescente estudioso. "Quando Serafina quebrou a perna, fui limpar o quarto dele. E havia uma madeira na porta com "Não perturbe'", conta Rosa para mostrar da dedicação aos livros.
"Quando o pai adoecia", diz Carmelita, "ele ia ajudar no mercado [municipal] e ficava lendo". Nascido em casa, na cama da avó, Serra dava aula para amigos. Usando camisa negra com a inscrição Serra 45 em dourado - um presente do deputado Turco Loco - as três falam ao mesmo tempo do dia em que o adolescente desafiou a professora de português. E estava certo.
"Ele disse que o livro poderia estar certo, mas que o problema dele também [tinha sido resolvido corretamente]. O zero dele virou um dez", diz Thereza.
Militante do PSDB, Carmelita é fiscal do partido e já pediu votos para Serra, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Fala que não gostou das críticas de Aloizio Mercadante no horário eleitoral gratuito. Afirmando que acreditava na vitória de Serra em 2002, diz que hoje tem uma sensação de vitória. Thereza repreende. "É que ela não quer que a gente diga que já ganhou", explica Carmelita, que mantém acesa uma vela em casa.
Numa conversa reservada, Thereza, que reza o terço diariamente e pede por Serra, confessa sua esperança. "Não sei se estão mentindo. Mas hoje todo mundo diz que vai votar nele. Em 2002, não era assim".
Thereza e Carmelita também discutem ao falar dos projetos políticos de Serra. "Pensei que ele venceria em 2002. Agora, peço a Deus que ilumine Lula. Mas sei que chegará a vez dele", diz Carmelita. "Como, se ele vai ficar no mandato até o fim?", interrompe Thereza. "Ele tem 62 anos. Com 68 (em 2010), está bom", reage a caçula.
As três lamentam que Serra tenha perdido peso na campanha de 2002. Gostam dele mais gordinho. E confirmam o laço de Serra com Serafina. Filho único, Serra sempre acompanhava a mãe à igreja. Só se separaram durante o exílio voluntário, após o golpe de 1964. Sem o filho, lembram, o pai, Francisco, adoeceu.
De volta ao Brasil, Serra visita Serafina todos os domingos. Vítima de um derrame, passa maior parte do tempo na cama. Na quarta-feira, emocionada com a chegada de Serra para uma foto, Serafina chorou. Comovido, ele deixou a casa da mãe. "Pena que ela não estivesse bem", comentou à saída da Mooca. (CATIA SEABRA)


Texto Anterior: Tucano se policia para evitar deslizes
Próximo Texto: São Paulo: Por 4 horas, Marta vai atrás de votos no metrô
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.