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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PSDB
Lula diz a auxiliares que, se opositores criarem "clima de impeachment", partirá para o ataque
Planalto esboça plano para "guerra" contra oposição
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se a oposição insistir em usar a
acusação de que Cuba contribuiu
para a campanha de Luiz Inácio
Lula da Silva em 2002, o governo
vai partir para o confronto.
Quem falou com Lula no final
de semana encontrou um presidente contrariado e disposto a referendar uma guerra contra a
oposição e setores da mídia.
O presidente acha que a oposição viu que após meses de investigação não encontrou nada de
concreto contra ele e tenta agora
criar um clima para seu impeachment ou seu eventual afastamento voluntário da sucessão de 2006.
Nas conversas reservadas, Lula
disse que, se a oposição levar a sério a tese de impeachment, ele poderia seguir a linha do presidente
da Venezuela, Hugo Chávez, que
dividiu o país ao meio ao partir
para uma luta direta contra a mídia e a oposição de seu país, que
tentou, sem sucesso, tirá-lo definitivamente do poder com um
golpe, em abril de 2002.
Na avaliação do Palácio do Planalto, se a oposição voltar a entoar
o discurso de impeachment de
Lula para valer, o presidente e o
PT teriam duas saídas:
1) bater duro no caso Eduardo
Azeredo, senador tucano que
quando candidato ao governo de
Minas recebeu recursos de Marcos Valério por meio de caixa
dois. A tentativa é mostrar que o
mensalão teria origem no PSDB;
2) ressuscitar suspeitas de corrupção da gestão FHC que o PT
deixou de lado na transição de governo com o PSDB em 2002. Relatórios do período de transição
permanecem inéditos até hoje
por ordem de Lula, que, à época,
preferiu não investigar eventuais
suspeitas de corrupção para evitar
que a economia sofresse. Quando
Lula assumiu, havia risco de volta
de forte processo inflacionário e
desconfiança dos investidores no
novo governo.
As informações de como o governo pode partir para um confronto mais duro com a oposição
foram transmitidas à Folha por
dois interlocutores de Lula que falaram com ele no final de semana.
Eles comentaram possíveis efeitos políticos da reportagem da revista "Veja" que acusa a campanha de Lula de ter recebido clandestinamente ou US$ 1,4 milhão
ou US$ 3 milhões de Cuba.
A reação do governo às denúncias será o tema principal da reunião de coordenação, hoje, no
Planalto. Segundo um assessor do
presidente, o governo estuda duas
possibilidades de investigação.
A primeira, caso a avaliação dos
ministros seja de que dificilmente
surgirão provas concretas para
agravar a crise, seria deixar o PT
investigar as denúncias.
Caso a avaliação seja de que a
repercussão é perigosa e ameaça
envolver o Planalto, a opção do
governo deverá ser a de acionar a
Polícia Federal nas investigações.
"Linha dura"
À Folha um auxiliar direto de
Lula afirmou que a oposição, embora não envolvida com a denúncia, vai querer tirar proveito para
enfraquecer o governo. Disse ainda que a "linha dura" venceu.
"Linha dura" é o nome de um
grupo de auxiliares do presidente
e de membros da cúpula do PT
que preferem partir para a guerra
com a oposição a tentar algum tipo de entendimento que melhore
o clima entre os dois lados.
Nesse grupo, estão os ministros
Luiz Marinho (Trabalho), muito
amigo do presidente, Dilma
Roussef, que tem sido durona na
Casa Civil até com colegas de governo, Luiz Dulci (Secretaria Geral), que acha que a oposição infla
artificialmente a crise, e membros
da cúpula do PT, como o presidente do partido, Ricardo Berzoini, e seu antecessor, Tarso Genro.
Esse grupo "linha dura" vem
defendendo uma ação ofensiva
do governo e do PT. Até a semana
passada, essa ala era confrontada
pelos ministros Palocci, Márcio
Thomaz Bastos (Justiça) e Jaques
Wagner (Relações Institucionais).
Wagner deu entrevista à Folha
na última quinta, publicada ontem, defendendo um acordo com
a oposição para pôr fim ao que
chamou de "guerra fratricida" entre PT e PSDB no Congresso.
O articulador político disse que
deveria haver acordo para encerrar as investigações das três CPIs
do Congresso até 15 de dezembro
e encaminhar tudo o que foi apurado à Justiça, ao Ministério Público e à Polícia Federal.
A posição de Wagner refletia o
resultado de uma conversa com
Lula na qual ele avaliava que seria
melhor tentar diminuir a intensidade da guerra política com a
oposição, já que acabar com essa
animosidade é praticamente impossível em virtude da antecipação do debate sucessório.
Wagner e Lula avaliaram que a
nova Executiva do PT estava adotando uma linha muito dura e que
só estimularia o conflito. O ministro chegou a telefonar para o senador Azeredo a fim de dizer que
o governo não tinha interesse em
dificultar sua vida por causa da revelação de que recebeu R$ 700 mil
de Marcos Valério.
No meio da conversa, Azeredo
passou o telefone ao líder do
PSDB no Senado, Arthur Virgílio
(AM), que ouviu de Wagner a
ponderação de que PT e PSDB tinham elementos comuns na sua
origem que recomendavam evitar
uma guerra de destruição mútua.
Nas reuniões internas de governo, em maior ou menor grau,
Wagner, Palocci e Thomaz Bastos
sempre argumentaram que não
interessava a Lula e ao PT criar
um clima de guerra tão longe da
sucessão presidencial de outubro
do ano que vem.
No entanto, parecem ter sido
vencidos pelos fatos e circunstâncias neste final de semana.
Para complicar, o publicitário
Marcos Valério vem chantageando o governo. Ameaçou envolver
até Lula em lobby fracassado no
Banco Central para tentar receber
parte dos R$ 55 milhões que diz
ter emprestado ao PT e que são
confirmados pelo ex-tesoureiro
do partido Delúbio Soares.
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