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SEGUNDO MANDATO EM DEBATE
Expectativas minguadas
EDUARDO GIANNETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O QUE ESPERAR do segundo mandato de Lula? A ambigüidade do
verbo "esperar" em nossa língua recomenda desdobrar a
pergunta em duas. A primeira
remete ao universo do desejável: o que esperaríamos, no melhor cenário, de um novo governo? A segunda é um exercício
de previsão fria: o que é realista
esperar de Lula-2 no cenário
mais provável? O esperar desejoso, pai da esperança, inspira
respostas que o esperar preditivo, filho da razão, não autoriza.
O fosso é enorme.
Acelerar o crescimento e reduzir a desigualdade de modo
permanente são os principais
desafios do país. O problema é
que para enfrentá-los o novo
governo precisaria não só de
um diagnóstico correto dos
obstáculos como de ousadia e
liderança para implementar
um espinhoso conjunto de reformas. Por mais que me esforce em procurar sinais de que
Lula-2 estará à altura desses
desafios, não sou capaz de detectá-los. Como brasileiro, profissional da esperança, torço
sinceramente para estar enganado. Como analista, entretanto, duvido que esteja.
Lula-1 prometeu o "espetáculo do crescimento". Lula-2
anuncia "meta" de 5% em
2007. Será diferente agora? O
crescimento não é algo que se
possa fabricar com decretos, alvarás e ordens régias. Ele resulta do esforço de poupança e investimento da sociedade -setores privado e público- visando um futuro melhor. O nome
desse jogo é acumulação de capital: físico e humano.
O Brasil cresce pouco porque: 1) o Estado drena cerca de
40% do valor criado pelo trabalho dos brasileiros e faz um uso
desastroso desses recursos e 2)
o nosso ambiente de negócios é
um dos piores do planeta para a
abertura, gestão e fechamento
de empresas. Um país no qual
52,8% da mão-de-obra ocupada não tem uma situação regular de emprego está mais para a
selva do que para o livre-mercado. O Brasil figura na última
posição, entre 175 países, no
quesito tempo gasto pelas empresas para pagar tributos (2,6
mil horas/ano contra 68 na Suíça e 76 na Irlanda) -haja neoliberalismo! Pacotes de desoneração e subsídios, na velha tradição mercantilista, não dão
conta do desafio.
Além das reformas pró-emprego e crescimento (trabalhista, previdenciária e tributária),
a educação deveria ser o ponto
de honra de um governo comprometido com a redução da
pobreza. Salário mínimo e programas assistenciais trazem
alívio (e votos), mas não tocam
na raiz do problema. Nossos
alunos ficam nas últimas colocações sempre que participam
de testes internacionais. Dos
adolescentes, 55% estão em série atrasada na escola. O Brasil
clama por um "Juscelino do capital humano" -um presidente
capaz de romper o marasmo e
incendiar a sociedade com seu
entusiasmo pelo ensino fundamental e médio de qualidade.
Estará Lula-2 à altura?
Podia ser pior. O populismo
anda em alta, não só na América Latina -o leste europeu vai
pela mesma senda. Lula é uma
versão branda do fenômeno.
Um segundo mandato não possui o impulso de mudança e ímpeto renovador do primeiro. O
mais provável? Mais do mesmo: estabilidade macro, baixo
crescimento, assistencialismo
analgésico. Difícil esperar mais.
EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA é economista, cientista social e professor do Ibmec-SP.
É autor, entre outros livros, de "O Valor do Amanhã" (2005), "Auto-Engano" (1997) e "Vícios
Privados, Benefícios Públicos" (1993), todos da
Companhia das Letras
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