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Desafios ao Ministro da Justiça
ISABEL LUSTOSA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O SEGUNDO GOVERNO
Lula se prenuncia mais
fácil -pelo menos para
o seu titular- do que o primeiro. Sem perspectivas de uma
nova eleição majoritária e não
tendo no cenário político nenhum herdeiro com chances de
empolgar o eleitorado nacional, Lula deixa de ser o alvo preferencial da oposição.
O mesmo não se pode dizer
de seu partido. Muitas coisas se
esfrangalharam durante esses
últimos quatro anos. A mais
importante foi o sonho de um
partido diferente dos outros.
Durante os quase 25 anos em
que o PT competiu e não elegeu
para cargos majoritários, seus
filiados e simpatizantes alimentaram a ilusão de que,
quando isto acontecesse, tudo
seria diferente. Não foi.
Se o PT não esteve no centro
do maior caso de corrupção da
história, como quis crer a oposição, o fato é que, obrigado ou
não pelas circunstancias, se valeu dos mesmos métodos dos
partidos tradicionais. Sujou-se
por pouco.
Não é o caso de se recomendar como fez aquele personagem de Machado de Assis:
"Quer sujar-se? Suje-se gordo".
Mas de lembrar que é obrigação
do PT, durante esse novo mandato, resgatar sua imagem, trabalhando para que o sistema
não leve obrigatoriamente o
político a sujar-se.
O espetáculo do primeiro governo Lula que mais empolgou
o eleitorado -ao lado dos programas sociais- foi o das ações
da Polícia Federal, pondo na
prisão corruptos de grosso calibre. Foram essas ações que elevaram o prestígio da corporação e do governo que a abrigava.
Matérias publicadas nos jornais mostrando como a justiça
tinha posto rapidamente na rua
boa parte dos presos levaram o
cidadão a cobrar da boa imprensa investigativa que se
ocupe da caixa preta do Judiciário, arrolando aqueles magistrados que mais deram sentenças favoráveis a notórios
criminosos.
Por isso merece que seja decidida com todo o cuidado a
substituição do ministro Márcio Thomas Bastos. Esse ministro marcou sua passagem pelo
governo por uma elegante, correta e equilibrada atividade, estabelecendo eficiente cooperação com o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda.
Destaque merecem seus esforços nas crises que envolveram a PF durante a campanha
eleitoral, procurando e pedindo aos políticos da oposição
que não desmoralizassem
aquela corporação. Esforços
que revelam consciência da importância do chamado "moral
da tropa", ou seja: o sentimento
de auto-estima necessário para
o bom desempenho de qualquer ofício.
Esse advogado rico, chique,
um tanto esnobe, sem atividade
política anterior conhecida,
que declarou ao assumir que
aceitara ser ministro apenas
por vaidade, revelou-se o melhor quadro do governo que ora
finda. Tomara que o seu sucessor tenha o bom senso e a modéstia de reconhecer a qualidade de suas realizações, conservando-as. E que siga seu exemplo, não usando o cargo como
trampolim para coisas supostamente maiores, considerando
suficiente para sua vaidade ter
feito o melhor no honrado e
prestigiado posto de Ministro
da Justiça da República Federativa do Brasil.
ISABEL LUSTOSA é cientista política, historiadora da Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, e autora de "D. Pedro I - Um Herói Sem Nenhum
Caráter" (2006, Companhia das Letras) e de "As
Trapaças da Sorte" (2004, UFMG)
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