São Paulo, sábado, 01 de abril de 2006

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MEDICINA

Pesquisa americana com 1.800 pacientes sugere que expectativa de doente com reza pode atrapalhar recuperação

Oração de estranhos não ajuda cardíacos, diz estudo

Petros Karadijas - 12.jan.2006/Associated Press
Imigrante muçulmano reza em uma mesquita de Chipre em comemoração de dia santo islâmico


BENEDICT CAREY
DO "NEW YORK TIMES"

Orações feitas por pessoas desconhecidas não tiveram efeito na recuperação de pacientes que passaram por cirurgias de coração, segundo um extenso e muito esperado estudo feito nos EUA.
Pacientes que sabiam que estavam recebendo orações tiveram mais complicações pós-operatórias, tais como arritmias cardíacas pouco usuais, talvez causadas pela expectativa criada pelas orações, acreditam os pesquisadores.
Por tratar-se da mais rigorosa pesquisa já feita sobre a influência da oração na cura de doenças, o estudo, que começou há quase uma década e contou com o envolvimento de mais de 1.800 pacientes, foi, durante anos, motivo de muita especulação.
A questão é controversa entre pesquisadores. Há quem acredite que rezar talvez seja a mais profunda resposta humana para doenças, e que ela pode aliviar o sofrimento por meio de algum mecanismo ainda não compreendido, como o efeito placebo. Os céticos dizem que estudar a oração é um desperdício de dinheiro e que pressupõe intervenção sobrenatural, o que coloca esse assunto fora do alcance da ciência.
Ao menos dez estudos sobre os efeitos da oração foram feitos nos últimos seis anos, com resultados diversos. O novo estudo deve ser publicado no "The American Heart Journal" semana que vem.
Em entrevista coletiva, os autores da pesquisa disseram que as descobertas não são a última palavra sobre o efeito da chamada oração intercessória. Mas os resultados levantam questões sobre se os pacientes devem saber que outros estão rezando por eles.
"O problema de estudar a religião cientificamente é que se agride o fenômeno ao reduzi-lo a elementos básicos que podem ser quantificados, e que fazem mal para a ciência e para a religião", acredita Richard Sloan, da Universidade Columbia. Ele acrescentou que tais estudos são "um desperdício de recursos".
O custo do estudo é de US$ 2,4 milhões, sendo que a maior parte do dinheiro veio da John Templeton Foundation, que patrocina estudos ligados à espiritualidade.
No estudo, os pesquisadores monitoraram 1.802 pacientes em seis hospitais que receberam pontes de safena.
Os pacientes foram divididos em três grupos. Dois deles receberam orações; o terceiro, não. Metade dos pacientes que recebia orações ficou sabendo que havia pessoas rezando por eles; à outra metade foi dito que ela poderia ou não estar recebendo orações.
Os cientistas pediram a membros de três congregações para fazerem as orações, usando o primeiro nome dos pacientes e as primeiras iniciais do sobrenome.
Foi dito às congregações que elas podiam rezar da maneira que lhes conviesse, mas foi sugerido que elas incluíssem a frase: "por uma cirurgia bem-sucedida, com uma recuperação rápida, com saúde e sem complicações".
Analisando as complicações nos 30 dias imediatamente posteriores à operação, os pesquisadores não encontraram diferença entre os pacientes que receberam e os que não receberam orações.
O novo estudo foi projetado para evitar problemas como outros que surgiram em pesquisas anteriores. Mas especialistas disseram que ele não cobre o maior obstáculo nas pesquisas acerca das orações: a quantidade desconhecida de orações que cada pessoa recebe de amigos, familiares e congregações ao redor do mundo todo.


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