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Infra-estrutura urbana e saúde pública deverão ser repensadas
Juca Varella - 04.fev.2004/Folha Imagem
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Avenida Aricanduva, São Paulo, alagada em chuva de verão |
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil precisa conhecer as
vulnerabilidades à mudança
climática de suas várias regiões,
para adotar uma política pública de "redução de danos".
"A mudança climática já está
aqui. Não tem mais o que combater. Temos de avaliar a situação e propor medidas para poder reduzir o prejuízo", afirma
José Marengo, pesquisador do
Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais).
"Por enquanto, o Brasil não
tem um plano nacional de vulnerabilidade, como existe em
outros países do mundo", diz.
Na Holanda, por exemplo, um
plano de reordenamento territorial e agrícola já está em curso. O país fica abaixo do nível do
mar e deve deixar a água invadir parte de seu território.
Um modelo feito por Marengo mostra que, no pior cenário,
as temperaturas vão subir em
até 6 C na maior parte do Brasil durante o próximo século.
Segundo Marengo, é bom
que se entenda que a mudança
do clima está perto das pessoas.
"Uma zona com bastante risco é o Semi-Árido. As secas
mais freqüentes poderão gerar
refugiados do clima. Grandes
ondas de migração."
No caso do Sudeste, como os
episódios das chuvas intensas
devem aumentar (mesmo que
não ocorra uma elevação no volume total de precipitação no
ano), a potencialização de problemas já conhecidos dos moradores das grandes cidades parece inevitável.
"São Paulo com qualquer
chuvinha vira "una Venezia". Isso é resultado de uma mistura
dos efeitos das mudanças do
clima com coisas que não têm a
ver", explica o peruano Marengo, com sotaque carregado.
"As pessoas moram nas encostas e nos leitos dos rios. A cidade está muito impermeável,
com muito lixo. Tudo isso precisa ser analisado."
Para Ulisses Confalonieri,
pesquisador da Fiocruz e membro do Grupo de Trabalho 2 do
IPCC - voltado para adaptação
e vulnerabilidade-, a imagem
de que alguns problemas serão
potencializados é mais correta.
"Temos um mapa de vulnerabilidade sobre o impacto do
clima nas doenças que é válido
hoje. E daqui a 30 anos?"
Os casos de malária, dengue e
diarréia tendem a aumentar
onde as doenças já existem: o
aquecimento diminui mais ainda as diferenças de temperatura entre inverno e verão, facilitando a reprodução de insetos
vetores de doenças.
O pesquisador diz que haverá
um risco maior nas zonas urbanas de leishmaniose e leptospirose. "Isso vai ocorrer. Como
vamos nos virar? Na verdade, a
pergunta é outra. Temos de saber como o poder público vai
acudir as pessoas."
(EG)
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