São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2008

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USP tenta fazer 1ª linhagem 100% brasileira

DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas brasileiros em biomedicina de ponta também se deparam com problemas alheios ao fantasma da ação de inconstitucionalidade, e uma reclamação freqüente é a burocracia na importação células-tronco embrionárias humanas. Esse entrave seria eliminado se o Brasil criasse suas próprias linhagens dessas células, mas o único grupo do país que já tenta fazer isso não têm notícias muito boas para dar, por enquanto.
Desde 2006, o Laboratório de Genética Molecular do Instituto de Biociências da USP já recebeu células de 15 embriões (doados por uma clínica de reprodução assistida) para tentar derivar delas uma nova linhagem de células-tronco humanas (veja quadro abaixo, à esquerda).
Três deles geraram células que não se multiplicavam, nove geraram células sem a desejada capacidade de diferenciação (a chamada pluripotência) e restam três tentativas para o atual "pacote" de embriões se esgote.
"Por conta do número limitado de embriões que existem, optamos por trazer especialistas dos EUA no ano passado para nos ensinar os passos críticos e treinamos uma série de alunos nas diferentes etapas, em uma primeira rodada" conta Lygia da Veiga Pereira, que dirige o laboratório. "Estamos na segunda rodada, com o pessoal treinado, e espero completar isso até a metade do ano. Mas não dá para saber."
A limitação no número de embriões disponíveis para pesquisa se deve, em parte, à Lei de Biossegurança, que só permite o uso de material congelado em clínicas de reprodução assistida antes de 2005. "Outra dificuldade é que só estão congelados aqueles embriões que não eram muito bons [os melhores são os usados pelas clínicas], e o processo de descongelamento também causa algum dano", diz Pereira. "Estamos aí penando com essas coisas todas."
Por enquanto, o único laboratório que colabora com o da pesquisadora na tentativa é o de Stevens Rehen, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para Pereira, porém, qualquer ajuda será bem vinda.
"Temos de unir esforços neste momento. Estamos com quase dez anos de atraso nessas pesquisas. As primeiras linhagens de células-tronco embrionárias humanas foram estabelecidas nos Estados Unidos em 1998", diz a cientista. "Tendo autonomia e podendo treinar gente para fazer isso, nós podemos inovar, mas nós ainda não fizemos nem o feijão-com-arroz. Uma vez que nós consigamos fazer isso, chegamos a 1998." (RG)


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