São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

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Hominídeo macho era 'caseiro', afirma estudo

Análise química de dentes mostra que fêmeas deixavam grupo de nascença

MARCO VARELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pesquisadores acabam de mostrar que, entre ancestrais do homem que viveram na África, as fêmeas é que costumavam se aventurar para longe de seu grupo de origem na hora de acasalar.
Já os machos das espécies Australopithecus africanus e Paranthropus robustus, que viveram há cerca de 2 milhões de anos, tendiam a ficar em casa ""no caso, um conjunto de cavernas na África do Sul"" após a puberdade.
A novidade do estudo, que está na revista "Nature", é que ele usa uma tecnologia de ponta, a chamada ablação a laser, para "buscar novas formas de fazer ossadas antigas falarem", diz Matt Sponheimer, da Universidade do Colorado, um dos autores.

DE LEVE
Trata-se de uma técnica não invasiva em que o laser identifica o nível de variantes do elemento químico estrôncio presentes no esmalte dos dentes dos hominídeos.
O estrôncio ocorre naturalmente em rochas e no solo e é incorporado por animais durante a alimentação. A proporção das variantes do elemento, o estrôncio-87 e o estrôncio-86, deu aos cientistas pistas precisas sobre os locais de alimentação.
Até agora essa inferência era mais indireta, feita, por exemplo, a partir da forma dos dentes. Mas, com o uso de ferramentas, essa relação pode ser mascarada, pois os alimentos duros podem ser processados antes. A nova técnica "diminui essas fontes de incerteza", diz Patrícia Izar, primatóloga do Instituto de Psicologia da USP.
O estudo mostrou que 75% das fêmeas cresceram em locais distantes das cavernas, contra só 17% dos machos.
Segundo Izar, a chave para entender o fenômeno é a disponibilidade de alimentos de alta qualidade, os que são cruciais para a reprodução.
Se eles existem em grande quantidade e com alta qualidade, e podem ser monopolizados, as fêmeas permanecem no seu grupo de origem, formando coalizões de defesa baseadas no parentesco.
Já se os alimentos estão uniformemente distribuídos no habitat, sendo difíceis de monopolizar pelas fêmeas, os machos é que ficam.
Esse segundo cenário é, por exemplo, a situação de chimpanzés e de muitos grupos humanos. "Se eles estiverem certos, os padrões de busca de alimento e estrutura social previstos para o nosso gênero já estavam presentes nessa época", afirma Izar.


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