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ANTROPOLOGIA
Fóssil sumiu em 1914
Cientista redescobre raro bebê neandertal
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O esqueleto quase completo de um bebê neandertal, desaparecido há 88 anos, foi redescoberto e analisado por um antropólogo francês, achado que promete trazer informações sem precedentes sobre a relação entre os neandertais e o Homo sapiens.
Com meio metro de altura, o esqueleto da criança (de sexo desconhecido) tem cerca de 40 mil anos. Foi achado em 1914 por Denis Peyrony (1869-1954), uma lenda da paleoantropologia francesa.
Só que, no caso do bebê neandertal, ele cochilou: embora tenha
intuído que se tratava de um recém-nascido, Peyrony nunca descreveu o fóssil e ainda deixou que
ele se perdesse nos porões do Museu Nacional da Pré-História, em
Les Eyzies de Tayac (sudoeste da
França). Todos achavam que o
fóssil havia sido remetido para
Paris e se perdera.
Coube a Bruno Maureille, da
Universidade de Bourdeaux, desfazer esse engano. Em 1996, o antropólogo obteve a permissão do
museu para vasculhar os restos
mortais. "Logo tive certeza de que
aqueles eram os restos do bebê",
contou Maureille à Folha.
"Os sedimentos eram iguais ao
do abrigo de Le Moustier, onde
Peyrony achou a criança. E era
evidente que se tratava de um
neonato [bebê" neandertal, o que
é muito raro no nosso campo de
estudo", disse o antropólogo, cujo
trabalho sai hoje na revista científica "Nature" (www.nature.com)
Raro, aliás, é eufemismo: de
acordo com Maureille, o Le
Moustier 2 (nome oficial do espécime) é o único bebê neandertal
bem conservado. Além disso, recém-nascidos de outras espécies
de hominídeos (grupo do homem
e de seus parentes próximos) simplesmente não existem.
De um lado, a criança, que não
devia ter mais de quatro meses
quando morreu, revela a estranha
semelhança entre humanos modernos e neandertais: tudo indica
que ela tenha sido enterrada propositalmente, e a mandíbula contém sinais de dentes de leite.
De outro, porém, as diferenças
são numerosas: "A robustez dos
ossos é grande, as proporções
corporais são diferentes. Ele tinha
uma cabeça enorme, pés, mãos e
tronco muito grandes".
"Num bebê, você tem certeza de
que os traços morfológicos são a
consequência dos genes nucleares
neandertais. Em espécimes mais
velhos, você não sabe se a morfologia é uma consequência da cultura, do ambiente ou da história de vida pessoal", disse Maureille.
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