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Pesquisa americana contesta a
eficiência de xaropes contra tosse
MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Xarope é bom para a tosse? Pode ser que não. É isso o que sugere
uma pesquisa feita nos Estados
Unidos. O estudo, publicado neste mês na revista médica "Pediatrics" (pediatrics.aappublications.org), sugere que duas substâncias comumente utilizadas em
xaropes comerciais contra a tosse,
a difenidramina e o dextrometorfano, são tão eficientes quanto
água com açúcar.
O grupo comandado pelo pediatra Ian Paul, da Universidade
do Estado da Pensilvânia (nordeste dos EUA), fez no ambulatório da universidade uma pesquisa
com cem pacientes com tosse e
idades entre 2 e 18 anos. Paul e sua
equipe ministraram a 33 dos pacientes a difenidramina, a outros
33 o dextrometorfano e a 34 um
placebo (nome dado por cientistas a qualquer substância inócua).
Os resultados foram obtidos
por meio de um questionário ao
qual os pais tiveram de responder
nos dois dias seguintes à entrada
dos filhos no hospital. O questionário inquiria, entre outras coisas,
sobre mudanças na freqüência e
na severidade da tosse e na capacidade das crianças de dormir.
O resultado foi, no mínimo,
inusitado: a tosse foi diminuída
nos três tratamentos, mas sem diferença significativa entre eles.
Em alguns quesitos, como no caso da freqüência da tosse, o placebo se saiu ainda melhor que os
dois componentes de xarope.
"O estudo traz uma conclusão:
se for para ministrar esses medicamentos, é melhor simplesmente não dar nada e deixar a criança
o mais confortável possível", disse
o americano Paul à Folha. "Na
verdade, substâncias como essas
já despertam suspeita há muito
tempo. Os antitussígenos [remédios de combate à tosse] não são
endossados por muitas associações de pediatria no mundo", diz.
Falhas subjetivas
No entanto, o pediatra reconhece que a pesquisa, por estar baseada em questionários sobre a opinião dos pais, tem lá seus problemas. "Como qualquer estudo baseado em fatores subjetivos, este
também tem suas falhas. Mas, se
fosse feito de outra maneira, creio
que verificaríamos algo que muitos no mundo já perceberam: as
crianças não estão tossindo menos tomando essas substâncias.
Estão ainda se expondo aos riscos
dos efeitos colaterais."
Os médicos brasileiros parecem
concordar com a opinião de Paul.
Clóvis Eduardo Tadeu Gomes,
chefe da disciplina de Especialidades Pediátricas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
diz que há muito tempo a administração de difenidramina, dextrometorfano e outros antitussígenos é contestada na medicina.
"Não é novidade. A comunidade já vê com reservas a ação dessas substâncias há bastante tempo. Os níveis de eficiência são
muito baixos. Principalmente nos
casos em que se trata de crianças,
não recomendo seu uso por causa
de possíveis efeitos colaterais."
Para o pediatra brasileiro, os
medicamentos acabam sendo receitados para agradar aos pais das
crianças. "Esses remédios contra
tosse são receitados para deixar os
pais mais tranqüilos", diz.
Paul diz, porém, que um boicote
a xaropes em geral ainda é algo
exagerado. "Deve-se deixar claro
que nem todo medicamento que
contém as substâncias é ineficaz,
até porque eles aparecem normalmente em associação com outras
classes de substâncias, como os
broncodilatadores", afirma.
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