São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Professor treinou vários brasileiros em Coimbra

DA REDAÇÃO

Domenico Vandelli foi o pai da ciência brasileira. Isso numa época em que tanto Brasil quanto ciência eram conceitos relativamente jovens. Em plena restauração pombalina, em 1764, Vandelli foi convocado pelo marquês de Pombal a ser professor em Coimbra.
O plano de Pombal, influenciado pelo iluminismo, era abolir a escolástica e substituí-la pelo ensino de ciências, o que aconteceria em 1772.
Vandelli, amigo e discípulo de Carl von Linnaeus (Lineu), criador do sistema de classificação das espécies, organizou o Jardim Botânico da Ajuda e fundou um museu de história natural, sob forte oposição da Igreja Católica -descontente com a derrocada do pensamento aristotélico. Começou, ainda, a treinar jovens cientistas, a maioria brasileiros.
Numa época em que o negócio mercantilista do ouro declinava devido ao esgotamento das minas, as potências coloniais européias se viram forçadas a encontrar novas formas de exploração de suas colônias. França e Inglaterra já haviam tomado a dianteira no uso do conhecimento científico para inventariar riquezas florestais e minerais de seus territórios.
Portugal, por outro lado, era o arquétipo do atraso e do desperdício de recursos florestais: no livro "A Ferro e Fogo" (1996), o historiador americano Warren Dean conta como Portugal importava o copal, uma essência florestal, cuja planta era originária do Brasil.
Vandelli fez o governo português notar essas inconsistências. Sob estímulo de Lineu, organizou as "viagens filosóficas" às colônias ultramarinas. Entre seus os alunos estava o baiano Alexandre Rodrigues Ferreira, que descobriu a biodiversidade da Amazônia brasileira.
Também discípulos de Vandelli foram José Bonifácio, artífice da Independência, e Hipólito José da Costa, fundador do primeiro jornal do país, o "Correio Braziliense".
Um dos principais testemunhos do projeto científico de Vandelli permanece até hoje no Rio de Janeiro, o Jardim Botânico. O projeto foi obra de Rodrigo de Souza Coutinho, ex-aluno de Coimbra e conhecedor das idéias de Vandelli.
Souza Coutinho achava que a difusão do conhecimento científico era a melhor maneira de aliciar as colônias contra a ameaça francesa. Em tempos em que o governo brasileiro brada contra a internacionalização da Amazônia ao mesmo tempo em que protege desmatadores, esse raciocínio ganha atualidade -e faz falta.


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