São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2007

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Saber viver

Especialistas tentam entender por que a educação prolonga tanto a expectativa de vida

Fernando Moraes - 03.dez.2001/Folha Imagem
O empresário José Mindlin lê em sua biblioteca doméstica, que tem mais de 30 mil livros


GINA KOLATA
DO "NEW YORK TIMES"

O economista James Smith, especialista em saúde da empresa Rand, ouvia diversas hipóteses sobre o que torna uma vida mais longa -dinheiro, baixo estresse, uma família equilibrada, um grande número de amigos. Mas ele é cético.
Já se sabe que em qualquer sociedade, na média, alguns grupos vivem mais do que outros. Ricos vivem mais do que pobres e brancos vivem mais do que negros nos Estados Unidos. Longevidade, em geral, não está distribuída uniformemente. Mas Smith pergunta como distinguir o que é causa e o que é conseqüência.
Em todo país há uma expectativa de vida média para a nação como um todo e há os números para diferentes subconjuntos, baseados em raça, localização, educação ou prática religiosa. Mas quais importam?
As respostas têm surpreendido. O principal fator consistentemente ligado a vidas mais longas nos países estudados tem sido a educação.
Economistas que pesquisam saúde pública afirmam que outros fatores tidos como cruciais -dinheiro e plano de saúde, por exemplo- perderam importância, em comparação. "Mais ou menos renda na aposentadoria na realidade não afeta a saúde", diz Smith. "É uma coisa boa a fazer por outras razões, não pela saúde."
Alguns anos a mais de escolaridade resultam em anos extra de vida e em uma melhora na condição de saúde décadas mais tarde, na terceira idade. Mas esse não é o único fator.
Há o hábito de fumar, que corta drasticamente a expectativa de vida. Há a conexão entre possuir uma rede de amigos e familiares e viver uma vida longa e saudável. E há a evidência de que o poder no emprego e, presumivelmente, mais controle sobre a vida profissional, traz mais saúde.
Mas há pouca contestação em relação à primazia da educação. A primeira tentativa rigorosa de determinar se a educação realmente muda as pessoas de forma a torná-las mais longevas começou de maneira descompromissada.
Em 1999, a economista Adriana Lleras-Muney procurava assunto para seu doutorado. Ela encontrou uma idéia num estudo publicado em 1969. Três economistas haviam notado a correlação entre educação e saúde e deram um conselho: quem procura saúde melhor tem mais retorno ao investir em educação do que em assistência médica.
Isso só poderia ser verdadeiro se a educação por si só causasse melhora de saúde, mas havia pelo menos duas outras possibilidades. Talvez crianças doentes fossem menos à escola. Talvez a boa educação fosse conseqüência da renda, e esta é que levaria a uma saúde melhor. Mas como saber?
A resposta veio quando Lleras-Muney leu outro estudo antigo. Cerca de cem anos atrás, diferentes Estados norte-americanos começaram a aprovar leis obrigando crianças a freqüentar a escola por mais tempo. Adriana soube como aproveitar os dados.
"A idéia era [perguntar] se, quando um Estado mudasse a escolaridade compulsória de, digamos, seis para sete anos, as pessoas que tivessem sido obrigadas a ir para a escola por seis anos viveram tanto quanto aquelas que tiveram de ir por um ano a mais", disse.
Quando Lleras-Muney terminou a análise, descobriu que a expectativa de vida aos 35 anos fora estendida em até um ano e meio só pelo fato de ter um ano a mais de escolaridade.
Tudo isso, porém, traz a questão de por que o efeito da educação ocorre. Lleras-Muney e outros pesquisadores apontam uma possível explicação -como grupo, pessoas de menor escolaridade são menos capazes de planejar o futuro e esperar pelo retorno de dada atitude. Se isso fosse verdade, explicaria as diferenças entre números de fumantes entre pessoas de maior e menor educação, por exemplo.
Fumantes têm o dobro do risco de morrer em qualquer idade do que pessoas que nunca fumaram, diz Samuel Preston, demógrafo da Universidade da Pensilvânia. Aqueles com menos escolaridade têm mais tendência a fumar, mas "todos, mesmo eles, sabem que fumar pode ser mortal", diz.
A educação, diz Smith, ensinaria as pessoas a esperar pela gratificação de uma atitude, como deixar de fumar. "É preciso querer fazer algo que não é agradável agora, manter-se firme e pensar sobre o futuro."
Da mesma forma, controlar outros fatores de risco de doenças cardíacas, como colesterol e pressão, resulta numa velhice com mais vigor. E parece cada vez mais que a educação tem um grande papel aí.


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