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Celso de Mello defende ampliação do debate sobre o tema
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Celso de Mello, o ministro
mais antigo entre os 11 do STF
(Supremo Tribunal Federal),
defendeu ontem que o Brasil
amplie o debate sobre a legalização do aborto e disse que o
país "tem sido mais aberto no
plano internacional do que no
doméstico" sobre o tema.
"O que nós temos notado é
que jovens adolescentes se expõem a práticas abortivas clandestinas e não apenas comprometem gravemente seu estado
de saúde, como muitas vezes
morrem, o que é mais sério. Daí
a preocupação da comunidade
internacional", afirmou.
"Defendo que o Estado brasileiro transporte para o plano do
seu direito interno declarações
internacionais, que foram defendidas pelo Brasil, sob os auspícios das Nações Unidas."
Segundo o ministro, o país
participou "ativamente" de três
conferências em que o assunto
foi debatido, entre as quais a 4ª
Conferência Mundial sobre a
Mulher, realizada em Pequim,
em 1995. Essa reunião recomendou "considerar a revisão
das lei que contêm medidas punitivas contras as mulheres que
realizaram abortos ilegais".
"Lá [em Pequim] discutiu-se
a questão do aborto, e o Brasil
no plano internacional assumiu uma posição mais aberta
do que esta que vem assumindo
internamente no plano de sua
legislação. Por quê? Há uma
questão em debate que é a do
aborto seguro."
Ele também citou as conferências de Viena sobre direitos
humanos e do Cairo sobre população e desenvolvimento.
Mello fez essa afirmação um
dia após o STF começar a julgar
se libera ou não o uso de células-tronco embrionárias em
pesquisas científicas. O julgamento foi adiado por um pedido de vista do ministro Carlos
Alberto Menezes Direito.
Mello diz que a decisão sobre
células-tronco pode provocar
debate sobre novas condições
de aborto legal, além das duas já
previstas no Código Penal: estupro e risco de vida à mulher.
Ao mesmo tempo, sugeriu
que dificilmente o STF aceitará
a interrupção da gravidez nos
casos de anencefalia, objeto de
uma ação já em curso. "O tribunal ficará muito mais dividido
do que no caso dos embriões."
Mello prevê a liberação das
pesquisas com células-tronco
embrionárias humanas. "Tudo
indica que o tribunal vá, ainda
que por maioria exígua, repelir
a ação. A rejeição do pedido do
procurador-geral significa a celebração da vida e representa a
restauração da esperança a milhões de pessoas."
Para ele, o tema sobre quando a vida começa é "extremamente controvertido" e que o
STF não pode levar em conta
dogmas católicos. "O que não
podemos é fazer opção por uma
teoria que defina o início da vida a partir da perspectiva estritamente confessional."
(SF)
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