São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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TECNOLOGIA

Novo aparelho pode aperfeiçoar técnicas de imageamento médico, comunicação sem fio e estudos astronômicos

Italianos acham "Santo Graal" dos lasers

DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de cientistas na Itália diz ter desenvolvido um raio laser que pode ser encarado como uma das últimas fronteiras dessa tecnologia. Com o equipamento, eles acreditam ser capazes de revolucionar desde as técnicas de imageamento para uso médico até a comunicação sem fio de curta distância, culminando em aplicações para pesquisa astronômica.
"Nosso laser é o primeiro protótipo", diz Alessandro Tredicucci, da Universidade de Pisa. "Agora mesmo ele poderia ser usado para aplicações científicas muito especiais, como em astronomia, ou para pesquisas de laboratório."
O pulo do gato é que o feixe de luz que emana do sistema italiano pertence a uma frequência do espectro eletromagnético que vai de 0,3 terahertz a 30 terahertz. Para um leigo, o número pode não parecer impressionante. Mas os únicos sistemas feitos anteriormente capazes de chegar perto desse resultado eram grandes, desajeitados e, sobretudo, muito caros.
Olhando por esse ângulo, o estudo dos italianos pode ser comparado à busca pelo Santo Graal - o cálice que Jesus teria usado na última ceia com seus apóstolos, uma das relíquias cristãs mais procuradas de todos os tempos. A diferença é que, no caso do laser, a busca parece estar caminhando.
Tredicucci já trabalha no equipamento, descrito na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com), desde 1999. O objetivo, agora, é torná-lo operacional em temperaturas mais próximas da ambiente. Atualmente, o sistema é criogênico (precisa estar a no máximo -223C para funcionar). "Já estamos trabalhando para melhorar o acondicionamento e a montagem do laser a fim de obter temperaturas de operação mais altas", afirma. "Esperamos atingir essa marca de 80 K [-193C] bem rápido."
Outros aprimoramentos também estão sendo projetados pela equipe, para melhorar o design microscópico do laser. "Queremos torná-lo menos sensível à temperatura e buscar uma operação contínua. Estamos muito perto de atingir esta última."

Raio-X inofensivo
Seria uma grande vantagem usar essa frequência de luz em vez dos tradicionais raios X para obter imagens médicas, diz o italiano. "As ondas de terahertz podem dar informação complementar ao raio-X convencional, já que podem ser configuradas para ser sensíveis a tecidos moles específicos, como músculos, vias sanguíneas, gordura e nervos", afirma.
Além disso, as ondas de terahertz não danificam a saúde humana como os poderosos raios X, tornando viável seu uso regular para monitoramento médico.
"Em comunicações sem fio, ondas de THz são interessantes porque os materiais de construção são razoavelmente transparentes para elas. Entretanto, elas não podem ser usadas em distâncias muito longas, por causa da absorção atmosférica", diz Tredicucci.
Já os astrônomos poderiam se valer dos raios para estudar a composição do pó interestelar. "Atualmente eles têm de confiar em volumosos sistemas bombeados por laser de gás carbônico de alta potência. Eles são grandes, pesados e consomem muita energia", afirma o italiano. "A possibilidade de utilizar um laser com tamanho milimétrico no lugar deles é bastante atrativa, como você bem pode adivinhar."
(SALVADOR NOGUEIRA)


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