São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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BIOÉTICA

Médico italiano diz que mulheres não pagaram para carregar cópia humana e chama críticos de "talebans éticos"

"Coordeno três gestações de clone", afirma Antinori

STEPHANIE HOLMES
DA REUTERS

Severino Antinori, o especialista italiano em fertilização humana cujo objetivo é criar o primeiro clone de uma pessoa, disse ontem que três mulheres estão grávidas com cópias humanas, mas reclamou que os bebês serão vistos como monstros por uma sociedade hostil a eles.
Antinori chamou a si mesmo de "coordenador científico e cultural" dos projetos de clonagem e afirmou que uma das gestações está no décimo, outra no sétimo e outra no sexto. "Uma coisa é certa: no país onde esses bebês nascerão, se o clima de perseguição não mudar, quando o primeiro nascimento acontecer todos dirão que o bebê é um monstro", disse Antinori numa entrevista coletiva.
Ele negou estar cuidando pessoalmente de qualquer uma das gestações e recusou-se a dizer onde estão as mulheres, indicando apenas que uma delas vivia num país islâmico.
Apartado da maior parte da comunidade científica por sua recusa em abandonar a busca por um clone humano, Antinori disse que 40 pessoas estão envolvidas em seu projeto, espalhadas por 18 países. "Não estou isolado. Há medo de falar sobre essas coisas. Está ocorendo uma criminalização das minhas atividades", afirmou o médico italiano.
De acordo com Antinori, as mulheres grávidas passaram recentemente por ultra-sonografia (que não revelou problemas) e foram todas voluntárias, que não pagaram nada para se tornarem mães de clones humanos.
Contudo, um antigo parceiro de Antinori lançou dúvidas sobre as supostas gestações, dizendo que nenhuma pessoa da equipe original do projeto ainda estava participando. "Não acredito no que ele disse", afirmou o médico cipriota-americano Panayotis Zavos ao jornal Cyprus Mail, de Chipre. Zavos agora tem um projeto independente do de Antinori.
Na entrevista de ontem, o especialista italiano acusou o presidente americano, George W. Bush, de praticar "talibanismo ético" por causa de sua decidida oposição à clonagem humana. "O Ocidente e a Europa simplesmente não são realistas em banir a clonagem. Bush quer colocar uma burca [traje das mulheres afegãs] em mim e em outros pesquisadores", disse Antinori.
"Eles têm que entender: reprodução, sexo, tudo o que está ligado à privacidade não pode ser controlado pelo Estado. O projeto [de clonagem humana] vai dar a milhões de pessoas a possibilidade de exercer seu ancestral direito de se reproduzir", concluiu o pesquisador italiano, que afirma ter um método seguro de clonagem.



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